MÃES
Certa vez perguntei a um professor, que era padre, se ele não sentia desejo de ter filhos. A resposta que ele me deu foi inesquecível: “meu caro aluno, existem muitas maneiras de ser um pai. Sendo professor, por exemplo”. Ali senti que havia uma pessoa com muito amor pela humanidade e sem egoísmo algum. Na humanidade, ser ascendente biológico de alguém não é o essencial.
Por isto não entro muito neste clima de veneração pela figura da mãe como se fosse uma santidade. Mãe é uma pessoa como outra qualquer. Se é biológica, a causa normal foi um coito com um homem com espermatozóides saudáveis. Hoje existe também a inseminação artificial que gera vários embriões, um dos quais será implantado no útero da mulher. Os demais, se a mulher não quiser ter mais filhos, serão doados para pesquisa científica ou descartados, isto é, jogados no lixo.
As mães, sendo biológicas ou não, são seres humanos, com qualidades e defeitos que poderão interferir de modo positivo ou negativo na personalidade dos filhos. Freud escreveu um bocado sobre isto. Deixou muitas pessoas indignadas ao dizer que as crianças têm sexualidade e desejo; apenas não sabem disso. No caso dos meninos, sentem uma paixão amorosa pela mãe e ódio pelo pai, o qual vêem como um rival. É o famoso “complexo de édipo”. Uma historinha passada na cabeça da criança que precisa ser superada para que cresçam felizes.
Nem sempre as crianças são desejadas, mas a lei proíbe o aborto, embora permita o descarte de embriões gerados por inseminação artificial. A saída para muitas delas é a empreitada criminosa tipificada nos artigos 124, 125 e 126 do Código Penal. Calcula-se que haja cerca de um milhão de abortos no Brasil todos os anos. As mulheres das classes mas abastadas o fazem em clínicas chiques, com acompanhamento médico. As que não podem pagar por isso, geralmente fazem em fundos de quintais, utilizando garfos, arames e outros instrumentos capazes de horrorizar as pessoas mais sensíveis.
Penso que a maioria das mães “forçadas”, portanto, são pobres e, em muitos casos, precisam criar seus filhos sozinhas. O álcool é que normalmente as leva às gestações indesejadas. Assim, grande parte delas é viciada. Não acho muito difícil prever que crianças mal-amadas, sob a guarda de mães alcoólicas e promíscuas não terão vida fácil.
Mas este fenômeno não ocorre apenas entre os pobres. Quase a totalidade das mulheres que têm dinheiro de sobra também entra nesta de achar que podem criar filhos. Geralmente por cobrança dos demais parentes ou por insistência do marido. Não somos tão livres o quanto pensamos. A família e a sociedade nos encurralam com olhares medonhos se tentamos ser diferentes.
E, por isso, pessoas que mal conseguem cuidar de si, por serem muito neuróticas ou egoístas, colocam filhos no mundo, aparentemente bem-vindos. No entanto, uma criança não é fácil de ser cuidada. Então, contratam babás ou deixam seus filhotes em creches e, se realmente gostarem deles, gastam algumas horas da noite ou finais de semana com seus pimpolhos.
E todos os anos temos o dia das mães. Aprendemos que precisamos amar nossos pais. Isto é óbvio, mas os homens não são muito valorizados neste processo. As mães é que são as santas. Ai de quem xingar a minha. Certa vez quebrei o nariz de uma garoto que me xingou de filho da puta.
Devemos amar nossas mães, sejam elas como forem: chatas, burras, fanáticas religiosas, vadias ou bêbadas incuráveis. Devemos passar o segundo domingo de maio com elas, levar pra almoçar fora, comprar presentinhos. A minha, por exemplo, adora discos do Roberto Carlos.
Mas, como já cansei de escrever - aliás, muitos escreveram antes de mim, ninguém pode ser obrigado a amar ninguém. Então muitos de nós fingimos que amamos. Bem, este fingimento tem valor. Um pouco de hipocrisia ajuda a sociedade a viver em paz. E, afinal, elas nos levaram de sete a nove meses na barriga e algumas nos amamentaram.
Gostaria de finalizar este texto dando meus parabéns àquelas mães, biológicas ou não, que conseguiram criar seus filhos com amor, equilíbrio e paz. Aliás, as mães adotivas merecem realmente um tratamento especial. Transmitir nosso DNA pela humanidade vindoura é ordem da natureza. Mas criar com carinho uma pessoa que não foi gerada por você é a maior demonstração de amor e desapego que um ser humano pode demonstrar.