O FIM DO MESSENGER

Fiquei sabendo que o messenger seria desativado estes dias. Bateu-me uma enorme melancolia, apesar de já não o estar utilizando há muito tempo. Como muita gente, devo ter me cansado, fiquei sem assunto, ou tive desilusões. Mas houve uma época em que eu gastava muitas horas diariamente trocando palavras com muitas pessoas. Mais de trezentos contatos. Quase todos eram mulheres que eu jamais conheceria pessoalmente.

Havia um chat no portal do TERRA chamado de “sala dos poetas”. Eu gostava muito de estar lá. Então comecei a rabiscar uns versos. Nunca fui poeta de verdade, porém, de coração partido, a inspiração sempre aparece. E havia tanta gente interessante lá. Nicks como candy, joya rara, musa morta, esquilo, navista e tantas outras pessoas que habitam este nosso enorme Brasil. Com muitas delas o bate-papo evoluía, naturalmente, para a troca de mensagens pelo messenger.

E as palavras caíam pela tela junto dos emoticons. Engraçado como a gente consegue se abrir totalmente com uma pessoa desconhecida pela internet, mais do que, por exemplo, faríamos pessoalmente com um psicanalista. Ouvi histórias incríveis e conheci pessoas notáveis. Uma menina do subúrbio de São Paulo, por exemplo. Conversamos durante mais de dois anos. Fã de Marilyn Monroe, sonhava em morrer como ela.

Ah, sim. Agora me lembro por que deixei de usar o messenger. Tive um “casinho” real com uma das minhas amigas. Ficávamos cerca de seis horas por dia namorando, geralmente, de sete da note até uma da manhã, enquanto minha consorte – esqueci-me de dizer que sou casado -, dormia na maior tranqulidade.

Ela insistia em me conhecer pessoalmente. Contudo, depois de nos termos encontrado, nunca mais ela ficou novamente disponível pra mim. Foi a maior decepção da minha vida. Então percebi a enorme diferença entre a vida virtual e a real. A melhor maneira de conhecer uma pessoa é ainda começando por uma troca de olhares. Esta lembrança foi ótima para apagar a saudade do messenger.