O que eu odeio em romances

O mocinho se apaixona pela mocinha. Geralmente, um dos dois tem um passado indesejável. As vezes ela tem um cara chato que fica sempre correndo atrás dela, apaixonado, do qual ela só deseja se ver livre. E é claro que ela tem todo o apoio da platéia. Afinal das contas, quem deveria se importar? É só a droga de um personagem descartável, o que importa mesmo é torcer pelo grande amor do casal protagonista.

E é isso que eu mais odeio em romances.

Ninguém liga pro final feliz (ou infeliz) da ex louca que foi traída na introdução de tudo pelo herói playboyzinho da trama. O grande e encantador mocinho, que conquista todos com seu charme e eloquência. A ex loira, alta, e magra sempre dá seus chiliques, mas todos os rostos no cinema estão concentrados torcendo pra ela ficar quieta logo. Afinal, ela é só mais um empecilho que O Grande Amor deverá passar por cima pra no final enfim ficarem juntos. Assim como o ex dela. Aquele babaca rico que sempre acha que o namoro está as mil maravilhas enquanto a doce e pura donzela o trai. Mas é causa legítima. É tudo pelo amor dos protagonistas. E é isso que importa, não é mesmo?

Não, eu não acho. Nunca achei justo essa falácia toda de filme de amor. Não me parece justo. E eu fico imaginando.... Em meio a uma platéia gigantesca, olho pra trás e me pergunto se eu sou a única pessoa que sente que o coadjuvante da história, o ex, o louco apaixonado que todos sabem que nunca terá chances de ficar com a mocinha, porque ela é feita pro mocinho e ele pra ela... Será que eu sou a única pessoa que fica se perguntando se os personagens coadjuvantes, quem sabe, não mereciam também seus finais felizes?

Talvez o ex dela só parecesse tão frio porque ele realmente não fazia ideia do que estava acontecendo. Talvez a vida dele estivesse tão boa acreditando que a tinha ali, que estavam fazendo papel de casal principal na sua história de amor, que ele simplesmente não se preocupasse. E quem sabe se a ex dele não fosse assim tão má, só estivesse realmente apaixonada, por isso saia do controle ao ver que estava o perdendo. Quem pode provar que o amor dela é menos merecedor de existir do que o do mocinho e da mocinha, só porque não era correspondida?

confesso que essa minha defesa é sim derivada do fato de eu me enxergar um pouco nesses personagens. Mas não só por isso... Quer dizer, a vida não é assim, sabe? E esses filmes todos, eles nos fazem acreditar que os amores não correspondidos, aqueles não duram até o final da história, são errôneos. E eu preciso defende-los, porque eu sou um deles. Sou o erro, o mal entendido de algumas histórias espalhadas por ai. Sendo eu um deles, como posso duvidar de que suas causas sejam legitimas?

Será que eles, assim como eu, não sofreram o filme todo calados? Será que eles não estavam lá, escondidos logo atrás de uma cena de beijo do casal principal? Talvez, escondidos em outra mesa, ou sozinhos na chuva enquanto os dois pombinhos dividiam apaixonadamente um guarda-chuvas amaldiçoando o vento. Será que aqueles rostos frios não choravam enquanto todos sorriam com mais uma cena clássica de amor? Costumo imaginar que eles estão sim lá o tempo todo. E sinceramente, entendo seus silêncios. Eu tenho certeza de que muitos "felizes para sempre" foi descrito para um analista como o dia em que tudo desabou. Mas o que lhes cabia fazer se não silenciar e convencer-se de que seu amor é mais feliz assim, a milhas de distância protagonizando o romance favorito de um leitor qualquer? Outro leitos que, assim como eu, como você, é também um coadjuvante em alguma história perdida pelos cantos, calada, esquecida, silenciada.

Egoísta, eu sei. Mas eu só queria ter a certeza de que todo coadjuvante numa história terá a chance um dia de protagonizar uma outra história de amor clichê. Meu maior medo é de acordar um dia e descobrir que eu e eles só temos direito de protagonizar um monólogo triste sobre ser plano de fundo de histórias que ofuscam as nossas.

Pamella R
Enviado por Pamella R em 23/04/2013
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