Materialidades e espiritualidades

O que resta de minhas reminiscências, de minhas recordações dos bons tempos? Houve bons tempos? A pergunta vem e vai enquanto eu olho o gotejar da chuva na folha da planta. Especialmente houve o que recordar? Meu tempo de viver passara? Restou pouco, muito pouco... Eu mesmo não quis lembrar durante muito tempo; não vale a pena, são só romances com mulheres, - alguns platónicos, alguns carnais - os descobrimentos de estudante, a labuta diária, a determinação de seguir uma carreira artística, a modorra do dia a dia, as descobertas de pesquisas, o socialismo, a Igreja, a teoria da conspiração, o neossanyas.

Mudei eu ou mudaram os tempos? Não saberia dizer nem o que dizer. Criar sempre foi definir um universo para mim, delinear as arestas que separavam as materialidades das espiritualidades e o que era feito de mim nessa contenda toda. O lugar do artista, o lugar do escritor, o lugar do poeta é sempre o lugar do esquecimento ou da lembrança? Ou os dois?

Nossa contemporaneidade nos traz, de uma só vez, aquilo que é nossa herança de milênios, e a construção do porvir, do amanhã. O presente é esquecido, como matéria para análise, no máximo, dos teólogos espiritualistas ou dos heróicos religiosos que possam enveredar por essas desventuras contemplativas.

De certo modo minha vida pautara-se por uma determinação de seguir uma carreira artística, fruto das vicissitudes da condição de classe média, mas não só, fruto, sobretudo, de uma percepção de que o que vemos não é o que é, nem o que quereríamos, muito menos o que não queremos, o que vemos é a luta constante das espiritualidades e das materialidades plasmadas num tempo que espera de nós mais do que esperam de nós.

Esgarçamentos da arte pop e/ou da pop arte não são delírios, são emergenciais. Arte erudita e arte pop misturam-se hoje; a ciência da arte descortina a partir da epistemologia, muito do que tinha deixado de figurar com validade no âmbito artístico e teórico da arte. Qual a diferença entre arte pop e pop arte? A rigor, não faz diferença, a sátira das sátiras das sátiras não fará diferença. "Os bons tempos estão de volta..."

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 22/04/2013
Código do texto: T4252921
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