Mauricio Duarte, o artesão das materialidades
Como o Inhotep, o engenho egípcio do Hermetismo, se coaduna com as implicações artísticas de um contemporâneo expressionismo abstrato? Ou como as práticas de magia na Atlântida e na Lemúria há muito mais de 30 mil anos podem estar relacionados com a artes visuais do nosso tempo?
A rigor, nada. Milênios se passaram. Os tempos são outros. O homem hoje é pós-tudo, o homo virtualis com toda a sua carga de cinismo, hedonismo, crença agnóstica ou fé sincrética que a contemporaneidade nos traz todo dia.
Mas vamos nos permitir viajar hoje por estradas não trilhadas ou há muito esquecidas, as estradas do Panteísmo. Em arte, o que se poderia afirmar como uma arte panteísta? Existe tal coisa?
O panteísta é aquele que vê o Universo como Deus, sem diferenciar entre um e outro, sendo que cada partícula do cosmos é parte dessa divindade. O panteísmo é a doutrina que mais se aproxima da filosofia hermética do antigo Egito na qual o principal objetivo é participar da Conspiração Universal ou Conspiração Cósmica.
Seria, então, uma arte panteísta aquela que desse forma, luz e cor aos elementos da natureza, vistos como Deus em si mesmos? Para mim, uma arte panteísta, se é que pode ser chamada assim, seria aquela que se conectasse, a um só tempo, com a natureza e com o divino de forma una, não diferenciando entre eles, criador e criatura, mas sim, levando em torno de si, um teor de naturalismo próprio do templo cósmico do Universo.
Mas como? Isso é possível? Não sei se é possível tal coisa, mas tenciono, em minha arte, impulsionar questões próprias da contemporaneidade, sejam elas, a descorporificação e a virtualização que se sobrepõe ao indivíduo no nosso cotidiano atual, pleno de gadgets tecnológicos como o celular, o smartphone e a própria internet de uma forma geral. Ao lado disso, busco por em pauta, questionamentos como a validade dos signos naturais para uma estética expressionista abstrata. Utilizo-me de pseudo-carimbos (com pedras e madeira) empregados para marcar as telas com tinta, por exemplo.
Em suma, toda essa estética está imbuída do caldeirão pós-tudo da contemporaneidade e faz parte da minha arte. A arte que eu pratico me coloca como um legítimo pesquisador da arte panteísta? Eu não seria tão rápido em me classificar assim e nem tão rápido em dizer que tal classificação realmente existe.
Na verdade, eu me coloco como um artesão-artista, o artesão das materialidades. Tenho o interesse de materializar uma arte visual prenhe de possibilidades, deixando fluir a criação livremente. A minha ânsia é a de criar imagens de materialização reais, originais, com um selo de autenticidade própria de uma obra sem subterfúgios pré-moldados ou cópias pausterizadas. Minha intenção é estabelecer uma estética única, significativa e singular, dialogando com os movimentos contemporâneos sem esquecer o tesouro escondido do passado remoto e da natureza do cosmos.