Esquerdo-Direitismo
No dia 15/04/2013, uma segunda-feira, a “Super Interessante” publicou um texto chamado “A maldição do esquerdo-direitismo”, criticando o posicionamento político completamente a favor do mercado – de direita -, ou completamente a favor do Estado – de esquerda.
Embora eu concorde que o esquerdo-direitismo é uma visão altamente simplista e muitas vezes ruim, ela possui sua base de verdade. Também vale ressaltar-se que não é porque leva à falta de moderação que essa visão é ruim, mas sim porque junta dentro do mesmo “rótulo” posições distintas, como, por exemplo, liberais e conservadores, que, embora concordem em alguns pontos, discordam em outros – e que não são poucos.
Margaret Thatcher é, de fato, amada tanto pela grande maioria dos liberais e dos conservadores. Entretanto, isso não se deve apenas as suas atitudes como política, mas muito também aos seus discursos em prol do livre mercado e da liberdade individual e de sua imagem icônica como defensora da direita, imagem que a mídia ajudou-a a adquirir.
Nem todas as atitudes de Thatcher foram liberais – ou mesmo neoliberais, se o leitor preferir -, o que dizer da repressão violenta às tentativas de independência: uma minoria da direita não conservadora é contra o direito de secessão, o importante é a troca de mercadorias, bens e capital, não a qual país a população diz fazer parte. Todavia, não nego, é claro, que Margaret tomou atitudes necessárias para o Reino Unido, como diminuir – em relação ao PIB – a dívida pública, reduzir a inflação e cortar alguns gastos governamentais, porém ela foi uma política que, utilizando de mensagem e aparência forte, gerou revoltas, indignação e protestos.
Um modelo mais silencioso de governo direitista pode ser visto na própria Suécia que é tantas vezes citada tanto pela reportagem da Super Interessante quanto pela original, que criou essa discussão, chamada “The Nordic countries: the next supermodel” da revista “The Economist”. Esse país é comandado por Fredrik Reinfeldt que, com a ajuda do Ministro das Finanças, Anders Borg, faz um discurso muito mais moderado, porém toma atitudes muito parecidas: redução da dívida pública sempre que possível, corte de impostos, desregulamentação gradual da economia e substituição do serviço inteiramente estatal por algum em que possa haver a competitividade do setor privado, muitas vezes com Vouchers. O que se vê nesse país nórdico não é um sistema centrista, mas sim uma transição de algo próximo ao ideal esquerdista para algo próximo do ideal direitista. O que a revista The Economist faz é, na verdade, louvar um governo liberal.
Não se pode negar também uma contradição fundamental entre a ideologia dos defensores do capitalismo e dos defensores do socialismo: liberdade x igualdade. Por mais que se tente dizer o contrário, não é possível se ter, plenamente, os dois. No momento em que é obrigatório haver igualdade, haverá a necessidade de existir algo, ou alguém, que possa promover, muitas vezes pela força – e consequentemente restringindo a liberdade -, esse igualitarismo. Logo, só poderá acontecer uma conciliação caso: a) os partidos e pessoas revelem pragmatismo e não ideais; b) algo próximo da liberdade e algo próximo da igualdade sejam aceitos. Esse arranjo é difícil de ocorrer, e me pergunto se seria bom.
Também não há provas que mostrem que um centrismo seja o melhor caminho, logo, a reportagem apenas afirma algo “no vazio”, sem dar provas ou evidências que indiquem que um governo misto seria a melhor alternativa. Além disso, melhor para quê? Melhor para quem?
No entanto, essa matéria faz algo de bom ao criticar as pessoas da esquerda ou da direita que deixam com que a imagem icônica de um Chávez ou de uma Thatcher torne esses políticos intocáveis, sem defeitos, o que não é verdade: por mais que eu ache a Margaret um exemplo de política, ela apresenta defeitos, assim como um esquerdista sincero e inteligente deverá reconhecer, por trás de Hugo, o defensor dos pobres, uma pessoa que também cometeu seus erros.
http://umolharlibertario.blogspot.com.br/2013/04/esquerdo-direitismo.html