Desigualdades Sociais e Educação

O Estado brasileiro foi formado a partir de diferentes matizes étnicas e culturais, resultando assim em uma sociedade diversificada e multiculturalista. Na cristalização dessa sociedade, formaram-se inúmeros preconceitos em relação à cor da pele na mentalidade dos homens brancos que vieram para o Brasil, criando uma imagem estereotipada de negros e índios. A própria sociedade foi responsável, portanto, pela exclusão de alguns grupos minoritários e, atualmente, a sociedade tem buscado reverter essa situação por meio, por exemplo, das políticas de inclusão.

Buscando atingir a tão almejada inclusão social, o governo tem desenvolvido políticas para esse fim. A lei de cotas, em que alguns alunos negros, pardos, indígenas ou de baixa renda serão favorecidos para ingressar em universidades federais, é um exemplo claro disso. No entanto, a efetivação da referida lei não tem atingido os objetivos propostos, uma vez que as ideias propostas não podem ser integralmente atingidas devido à falta de recursos para isso, ou seja, as universidades federais por inúmeras vezes não tem condições de custear as medidas propostas.

As famílias de baixa renda, não tendo condições de custear a mensalidade das escolas particulares, vêem-se obrigadas a ingressar os seus filhos em escolas públicas. Tais escolas, devido a um conjunto de fatores que não permitem-lhes alcançar o alto nível educacional das escolas particulares, em sua maioria, como os poucos investimentos na área educacional, a má capacitação dos professores, etc, são, e muito, deficientes.

Sendo assim, o número de estudantes provenientes destas instituições que chegam ao ensino superior é muito reduzido. Por mais que a política de cotas proponha-se a incentivar a entrada desses alunos, em especial, nas universidades de renome, essa é uma medida pouco efetiva, uma vez que tais alunos, salvo raras exceções, não conseguirão acompanhar o nível educacional exigido por tais universidades, devido a um ensino primário deficiente. Dessa forma, infelizmente, as desigualdades permanecem.

É oportuno também dizer que o método utilizado por essa política de cotas, além de ser falho, é preconceituoso. Retomando um modo de ver o mundo no Positivismo, onde as diferentes culturas eram tidas como espécies humanas, sendo a cultura negra e a indígena inferiores à cultura do homem branco, essa política insinua que tais indivíduos, negros, pardos ou indígenas, não tem o mesmo grau de intelectualidade dos homens brancos, sendo necessária a ajuda das cotas para que consigam ingressar em tais universidades.

Seria muito mais certo se a política de cotas considerasse apenas a renda familiar do estudante em questão para saber se tal estudante realmente necessita de uma vaga em uma universidades pública, por não ter condições de pagar uma universidade particular. Este estudante provavelmente teria estudado em uma escola pública que, como já foi dito, geralmente não prepara suficientemente o estudante para que possa ingressar nas universidades de renome.

O investimento a ser feito, portanto, não é necessariamente no ensino superior, mas no ensino básico, pois nada adianta ajudar parte dos estudantes a chegar a esta modalidade de ensino se não preparar-lhes suficientemente para tal. Ou ainda, deixando de centralizar os investimentos no enino básico, o número de estudantes provenientes das instituições públicas de ensino que chegam ao ensino superior tende a estagnar ou ainda diminuir, uma vez que, como já foi dito, o sistema educacional público e básico brasileiro não incentiva ou não capacita seus estudantes suficientemente para que concluam os seus aprendizados e busquem profissionalizar-se.

Sendo assim, evidencia-se a necessidade de uma reforma no sistema educacional brasileiro. Mas é bom que se enfatize, é uma reforma nos fundamentos, nos alicerce da educação, e não no topo. Ou seja, são necessárias bases sólidas para que os estudantes brasileiros cheguem ao ensino superior bem preparados. Se for oferecida a todos os estudantes, igualitariamente, uma educação de qualidade, seja ela pública ou privada, certamente as desigualdades sociais diminuirão, uma vez que será oferecida desde a infância, um mínimo de igualdade de condições ao cidadão.

As desigualdades sociais permeiam a sociedade como um todo e certamente será difícil que desapareçam, mas podem ser amenizadas. Afinal, uma das premissas básicas de um Estado livre, democrático e de Direito é o acesso a educação de qualidade, emprego, saúde, moradia, enfim, fatores que assegurem a dignidade humana. Dado isso, é dever da própria sociedade fazer com que novos programas de inclusão sejam criados e os já existentes sejam efetivamente cumpridos, para que as pessoas possam viver mais igualitariamente e, é claro, com maior dignidade.