Transferenciabilidade
Hoje não existem limites para a transferência de responsabilidades na sociedade, a culpa é sempre de alguém, o individuo busca apenas a sua satisfação, sua única e necessária responsabilidade é com sua felicidade, algo efêmero, mas sem o qual, ele se tornaria uma caricatura da criação divina, apesar de ser o divino apenas referencia.
Algumas situações colocam esses momentos em risco, a pseudodivindade, que o torna diferente dos outros seres vivos do nosso planeta, não permite que goze da sua felicidade enquanto um semelhante, ainda que tido como inferior, esteja em sofrimento, não é divino permitir a dor de qualquer ser sem culpa; então como solucionar a equação? A felicidade produz substancias no cérebro humano que nenhuma droga é capaz de reproduzir, a ciência, a religião, a politica, o sexo, nada fornece elementos para o desenvolvimento das substancias produzidas pela felicidade, ou seja, essa necessidade criou um individuo social afeito a mecanismos que garantam-na e que forneçam subsídios suficientes para a aceitação, sem constrangimentos, da felicidade; essas engrenagens, muitas vezes confusas, tem justamente esse objetivo, a transferenciabilidade, exemplo desse mecanismo é como o individuo trata o dependente químico, o morador de rua, o menor infrator, a prostituta, os sem tetos, os sem terras, os desempregados, essa responsabilidade não é sua, é sim do governo, da família, do próprio individuo. Ele diz: - O dependente químico é fraco se entrega e não quer deixar de consumir a droga, o menor infrator é culpa da família que não deu limites, a prostituta deve gostar do que faz, os sem tetos vendem seus bens, são idiotas, os desempregados a responsabilidade é do mercado, se a criança é mal educada a culpa é da escola. Dessa forma se isenta de todo o ônus ficando apenas com o bônus e assim desfruta da felicidade sem consumir-se na consciência.
Essa felicidade faz com que o individuo se torne uma casca, oca, um instrumento sem alma, e estando sem alma o individuo só imagina a felicidade, o que sente é a dependência da aceitação por outras pseudosdivindades, tão ou mais ocas do que ele próprio, e assim se torna parte dessa imensa sinfônica de instrumentos mudos, que o Divino, inconsolável, não se digna a reger.