THE DARK SIDE OF THE MOON - 40 ANOS

Leio que "The Dark Side Of The Moon", o lendário disco do Pink Floyd, está completando quarenta anos. Um disco que ouvi milhares de vezes em minha adolescência. A notícia me traz algumas lembranças tristes e outras alegres.

Nesta época eu era um roqueiro fanático. Se eu soubesse que o Led Zepellin tocaria em Porto Alegre, seria capaz de pedalar os mais de dois mil quilômetros que vão daqui até lá, mas não perderia o show de maneira alguma. Claro que seria impossível porque quando comecei a ouvir o Led, a banda já havia acabado.

Do Floyd eu tinha todos os discos. Desde aquele da fase em que a banda era liderada por Syd Barrett até "The Final Cut", disco de 83, ano em que a banda, para mim, acabou, devido à saída de Roger Waters, o gênio atormentado, quase que inteiramente responsável pela obra-prima "The Wall".

Na época também caí na besteira de experimentar drogas. Nunca esquecerei a primeira vez, ouvindo "Atom Heart Mother". Foi um tempo de intenso sofrimento, pois os viciados precisam ir atrás de traficantes, tipo de gente que, em geral, não é exatamente aquela com a qual eu gostava de lidar.

Mas uma força estranha me levou a entrar para a Universidade e consegui me graduar em dois cursos. Depois de um longo período consegui largar o maldito veneno. Foi quando minha filha nasceu. Não queria que aqueles olhinhos vissem o papai doidão.

Por influência dos amigos que fiz na universidade, deixei de ouvir rock e passei a ouvir coisas mais sofisticadas, como Miles Davis, John Coltrane e outras feras do jazz e da música clássica. E doei minha coleção de discos ao meu irmão mais novo, que ainda os ouve.

A elaboração de "The Dark Side Of The Moon" foi marcada por alguns incidentes. Syd Barrett enlouquecera uns dois anos antes, por abuso de drogas. Tenho um documentário sobre a vida dele. Dizem que após uma noite regada a todos os tipos de porcaria, o homem acabou. Ficou incapaz de tocar novamente.

Ainda montou outra banda e preparou sua volta. Mas, no primeiro show, com a casa lotada, começou a cantar uma canção e parou no meio. Foi embora e nunca mais voltou ao show business. Passou a morar com a mãe e recebia os royalties da obra que fizera com o Pink Floyd. Morreu há uns três anos. Rest in peace, Syd.

Enquanto a banda gravava "The Dark Side Of The Moon", notaram uma figura estranha no estúdio. Era gordo, careca, sobrancelhas raspadas, pulava e ria como um maluco. Era Barrett, que viera fazer uma visita. Em 75, seus amigos o homenagearam com "Wish You Were Here".

A letra da primeira canção do "The Dark Side", "Money", grande sucesso, foi utilizada por Waters anos depois no filme "The Wall", dirigido por Alan Parker, para criticar o sistema educacional que, segundo ele, poda as crianças. Outro grande sucesso vem logo depois, "Time", com aquele solo grandioso de guitarra de David Gilmour.

Ainda me vem à cabeça "The Lunatic Is On The Grass" e o fechamento do disco com "The Great Gig In The Sky", que conta com a participação vocal luxuosa de Clare Torry. Li em algum lugar que "The Dark Side" é um dos poucos discos que nunca saiu da lista dos mais vendidos em todos estes anos.

Este disco é de audição obrigatória para quem quer conhecer o rock. Podemos colocá-lo no nível de "Sgt Peppers", "The Doors", "Velvet Underground", "Eletric Ladyland", de Hendrix, etc. Sinto inveja de quem tinha dezesste anos em 1967. Ano maravilhoso para a música pop, com muita gente desbundando.

O Pink Floyd foi a principal banda do chamado "Rock Progressivo", que era um rock marcado pelo virtuosismo, pelo esmero da produção e pelo visual psicodélico. Foi muito forte até que o punk surgisse para contestar esta atitude, e propusesse uma outra, mais violenta e mais pobre do rock. Dou razão às duas porque também amo o "The Clash", e certamente poria "London Calling" na lista dos discos indispensáveis.