Pegadas

Uma mala, mochila ou sacola é tudo que preciso para por meia dúzia de roupas, calço meus chinelos e vou-me embora para não sei onde, sei que decisões terei de tomar lá na frente, mas meus pés já não conseguem mais ficar parados.

Uma ultima rosa neste caminho, já fora mais bonita mas parece viver seu outono particular, tenho certeza que a primavera chegará após o rigoroso inverno do norte, mas não serão mais minhas águas a regar-lhe as pétalas, não há mais espaço para isso, não há mais lugar onde guardar tanto liquido de vida, não há mais nada para mim aqui.

Deixa ir embora sem olhar pra trás, mas não negando o passado. Deixa ir embora mas olhe para o chão, veja as pegadas firmes e limpas que deixo no solo úmido, ainda que suje todos os tênis cinza, ainda que rale os calcanhares, onde eu for as pegadas denunciarão meus passos.

Minha maior bagagem não pode ser guardada ou carregada sobre os ombros, garfos e facas, mundos cênicos, armas de grosso calibre imaginarias vêm comigo, mataria elefantes com cada uma delas, compartilho da sina do nobre colega Santiago, mas, para minha sorte, meu livro acaba ainda jovem, posso escrever mais uma vez.

Vou-me embora para outros campos, outras matas e deserto, enfiarei minha cabeça no gelo e colherei novas flores para entregar a novas mãos, deixar que o futuro escreva a si próprio todos os dias, não haverá mais planos sobre qual esquina virarei amanhã, deixo para pensar no amanhã quando tornar-se foto no álbum da família.

Vou-me embora, mas olhe para baixo se quiser me encontrar. Só sumirei se deixarem.

Pegadas por toda parte.