(Des)construção

Ao caminhar pelas ruínas do que outrora fora seu castelo, era impossível não se perguntar o porquê, mas sua consciência gritava no fundo da mente, não a resposta para esta pergunta, mas fazia outra, esta sim, talvez respondível por ele mesmo: qual a razão da construção e da desconstrução disso?

Tomando cuidado para não tropeçar nas palavras, nos pensamentos e tempos que foram usadas para construir aquela antiga maravilha, buscou a resposta numa pedra que cabia na palma de sua mão. Analisou o pequeno escombro e viu que, apesar de haver suas letras, não havia seu nome, não havia seu rosto e tudo pareceu muito familiar, havia muito pouco de si em todas aquelas pedras e então ele identificou um erro.

Construir seu castelo com as fundações de outro, talvez tornar-se inquilino da própria construção, no Maximo um co-proprietário, pareceu uma boa idéia mas totalmente frágil, viu que construiu um castelo de cartas, algumas marcadas embora desejasse, de todo coração, fechar os olhos ao que elas anunciavam, um castelo que, como qualquer produto, veio com data de fabricação e data de validade.

Mas como uma criança que nada sabe da vida, fazia perguntas e mais perguntas, seria aquela visão a realidade ou fruto de seu olhar envenenado pela tristeza? Todas as suas perguntas sem respostas dariam um enorme compilado e quem se dispusesse a responder duas ou três, poderia levar um premio.

Tudo já estava devidamente chorado e lamentado, chorou a queda, o momento da implosão, mas jamais molharia outra vez aquelas pedras com suas lagrimas, era uma promessa feita a si e por si, para sentir-se um pouco melhor. Sentiu prazer em vir dia após dia pisar e matar seu passado, uma forma de transformar dor em raiva, fazer ódio uma força de ação, mesmo que não usada, mas sentia-se bem em odiar.

Por que odiar o que lhe motivou a construir tão belamente? Seguiu-se os primeiros sinais de sua esquizofrenia, dupla personalidade, dualidade de pensamentos. Andar na linha do prazer do ódio e da resignação do carinho, gostar mesmo sozinho, mesmo no escuro, fazer homenagens aos destroços de si e do que construiu, oscilar entre o querer fazer e sentir-se o rei dos tolos por fazê-lo. Tolo, a palavra mais amena para descrever a si, mas uma pena que não traduz o peso do que realmente sente, do que realmente acha. No fim, esquizofrênico de fato.

As homenagens que tiveram de ser prestadas já foram, as tentativas que tiveram de ser tentadas já foram, as pedras que tiveram de ser esmigalhadas já foram, todas as certezas que deviam ser derrubadas já foram, chegara a hora de reaproveitar a única coisa possível de ser reutilizada naquele cenário de destruição: o tempo. O futuro fora o grande motor daquele edifício e agora seria usado novamente, mas com devidas alterações.

Chegara o momento de reconstruir, sabia que jamais construiria daquela forma novamente, por incompetência, por medo de ver ruir novamente ou pelo novo projeto, agora cada grão teria seu nome, seu rosto, suas letras, cada pedra seria sua e para si. Talvez se tornasse numa construção eterna, muito mais complexo ter a si próprio como projeto, pois conhecia cada uma de suas falhas e anseios, não haveria a possibilidade de terminar a construção e ir adaptando conforme a mudança das estações, não, no final deveria estar reerguido o castelo em definitivo.

A razão de tudo isso? Aprender que a construção deve recomeçar, mesmo que seja na tentativa e erro. Usará as mesmas fundações do antigo castelo, talvez uma ultima homenagem inconsciente. Qualquer fruto que tenha nascido naquela terra é bem vindo, o projeto foi bom, a construção foi boa e a destruição teve seu motivo.

Hora de trabalhar.