Palestra de Divaldo Franco...

Assisti ontem, no Aecim Tocantins a palestra do “mensageiro da paz” – Divaldo Franco, homenagem prestada pelo saudoso Chico Xavier.

Ele falou sobre Khalil Gibran e sua declaração contra a morte no livro “Espíritos rebeldes”, perdoem-me se algo não sair exatamente como foi dito, pois nada foi anotado, a não ser em minha memória e em meu coração.

Tudo começou com uma poesia que registrei assim:

“A semente vira capim,

O capim é comido pela ovelha,

A ovelha pelo lobo,

O lobo é morto pelo homem,

E o homem é ceifado pela morte!

Oh! Deus tudo perece,

Tudo morre e desaparece...”

Na verdade tudo vive e se transforma.

Então ele narrou-nos a história do encontro de Khalil com o julgamento do Califa e com as dores e as verdades dos acusados.

“Khalil foi assistir ao julgamento do califa, este um tanto entediado pediu ao acusador que fizesse adentrar o primeiro caso...

Adentrou no grande salão de julgamento um homem acusado de matar um soldado do califa, quando o califa perguntou o porquê, este lhe respondeu: _ Foi legitima defesa... Esbofeteado na face não pode continuar.

Este homem adentrou o salão amarrado e acusado de decepar com uma adaga a cabeça de um cobrador de impostos do califa, anunciado pelo acusador como um homem sem respeito pelas autoridades e pelo próprio califa, já que desafiava seus representantes.

O califa encolerizado pede uma bacia e repete o gesto mais hediondo da história da humanidade e lava as mãos como fizera no passado, um certo Pilatos. E ordena que o homem tenha a sua cabeça decepada.

Em seguida adentra o salão uma mulher acusada de adultério, relata o acusador que a mulher foi tirada da miséria pelo marido, um homem nobre e cheio dos cobres, que a flagrou em adultério no jardim da própria casa.

Ela descabelada nada pode dizer em sua defesa, e lamentavelmente ainda hoje a mulher no Líbano muito pouco ou quase nada pode dizer em sua defesa.

O califa a condenou a lapidação e a desfilar nua pelas ruas da cidade e assim ela fora arrastada para fora do salão.

O terceiro caso foi anunciado como sendo o de um velho homem que receberá trabalho num monastério cristão e que lá retornará na calada da noite para roubar um pote de ouro, sendo assim surpreendido pelos monges que o entregaram as autoridades.

Assim que tentou pronunciar algo em sua defesa levou uma bofetada que lhe quebrou o nariz e cortou-lhe a boca.

Foi sentenciado ao enforcamento pelo ato hediondo da tentativa de roubar.

Khalil era poeta e como tal ficou chocado com a dureza dos corações que se apresentaram de forma tão vil ali naquele tribunal.

Ao cair da tarde com seu coração de poeta apertado saiu para o campo dos condenados e não tardou a ouvir barulho de galhos e choro, ao sair da penumbra viu uma jovem que segurava a cabeça do jovem decepado junto ao corpo e então quis saber como podia chorar por um assassino.

Ela então lhe disse:

_ Esse jovem adentrou em minha casa para proteger a mim e a meu pai...

_ Como? Perguntou Khalil.

_ Os homens do califa exigiram os impostos 9 partes de 10, como não tínhamos, o chefe ordenou que meu pai fosse preso e que a propriedade fosse para o califa, mas quando adentrei a sala, assim que ele me viu disse “perdoarei as dividas e levarei a filha como escrava”. Foi nesse momento que esse jovem que eu nunca havia visto adentrou para nos defender daquele horror e para não ser morto pegou uma adaga que ficava na parede e defendeu-se daquele funcionário vil.

A jovem enterrou o jovem e saiu do lugar deixando lá o poeta só... O silêncio foi quebrado por choro e palavras de amor, o poeta buscando aquele som encontrou um homem a abraçar o corpo disforme e nu daquela mulher acusada de adultério.

O homem gritou:

_ Pode me denunciar, mas não deixarei o corpo virginal dessa mulher exposto para os abutres...

_ Mas ela era adultera... Falou Khalil.

_ Não! Ela não era. Nós crescemos juntos e quando completei 18 e ela 16 pedi ao seu pai que me concedesse sua mão, mas ele era avaro e desejava dinheiro e então eu lhe disse para que a guardasse para mim que eu viajaria o mundo para enriquecer e voltaria para casar-me com ela. Mas ele a vendeu a um homem rico com um harém... Eu subornei o guarda para vê-la, a encontrei diante de uma fonte a chorar e quando ela me viu, me falou “porque demorou tanto para voltar”... Perguntei se o casamento já estava consumado e ela me disse que não, mas que já havia uma data para a consumação... Então nos abraçamos e choramos e foi neste momento que o esposo de 70 anos adentrou com os guardas e não adiantou eu dizer que nada havia acontecido, eu fugi e ela ficou, foi espancada, humilhada, lapidada,.. Então nada vai me impedir de vesti-la com as folhas da natureza e enterra-la...

Khalil começou a colher ramos das árvores para cobrir-lhe o corpo nu, um manto foi jogado sobre o corpo e eles a enterraram.

Khalil se afastou e novo barulho lhe chamou a atenção, era uma velha, magérrima e miserável que cortava com os próprios dentes as cordas que seguravam o corpo morto suspenso do homem enforcado.

Quando viu Khalil disse-lhe:

_ Nada pode fazer para me impedir de enterrar o meu esposo.

_ Mas ele roubou ouro...

_ Não! Ele trabalhava para aqueles monges gordos e bêbados e recebia uma miséria, basta ver o nosso aspecto...

Eram mesmo tristes figuras de farrapos humanos, dava para ver os ossos de seus corpos miseráveis.

_ Nosso filho ficou doente de fome, então meu marido pediu aos monges o dinheiro para o remédio e eles negaram, nosso filho está morrendo, e ontem quando o dia estava para amanhecer ele acordou com os olhos arregalados e com um brilho estranho de desespero e me disse “hoje trarei comida” e saiu em direção ao monastério, não era o pote de ouro que ele queria, mas sim um pouco do trigo que é guardado lá dentro.

Khalil ajudou a mulher a enterrar seu marido e a viu sumir na escuridão após beijar a terra sobre o cadáver como se osculasse a testa do companheiro.

Naquele momento ele chorou e orou a Deus, e declarou sua dor em forma de poesia.”

Nós somos o país mais religioso do mundo, temos igrejas suntuosas e templos belíssimos, tem igreja em nosso país com mais dinheiro que muita instituição bancária, mas 10% dos brasileiros morrem de fome em nosso país, então vós pergunto:

_ ONDE ESTÃO AS BELAS LIÇÕES DE JESUS? NOS LIVROS, NA BIBLIA,...? Jesus após o sermão da montanha, observou que a multidão de mais de 5000 pessoas estava com fome e multiplicando pão e peixe deu a todos, alimentando-os e recolhendo as sobras.

A lição não poderia ser mais clara: É PRECISO ALIMENTAR A ALMA, MAS NÃO PODEMOS ESQUECER DO CORPO.

_ ONDE ANDA A CARIDADE? SOMOS OU NÃO SOMOS UM PAÍS CRISTÃO?

Pensem nisso e um imenso abraço fraterno a todos!