O risível e o ridículo

Uma amiga especial, recantista, que gosta de meus textos sugeriu que eu abordasse num escrito a “arte de fazer rir;” falando sério.

Bem, como se trata de uma arte, não pode ser comprimida numa definição, por mais abrangente ou sábia que seja. É próprio dessa, a versatilidade que empresta margem às mais diversas apreciações.

Embora, grosso modo, certos dicionários colocam como sinônimos o risível e o ridículo, quero fazer cá, uma distinção; o risível, para quem busca precisamente isso, é meritório, alentador; noutras palavras, aquilo que tem graça. Entretanto, o ridículo, pode ser exatamente o oposto; o que, mesmo pretendendo ser engraçado, soa mais como digno de escárnio, zombaria, sem graça.

Claro que, parte do humor pode estar no estado de espírito de quem lê, ou, mesmo, a falta dele. Além disso, coisas relativas mudam seu significado quando muda a relação, de modo que, muitas variáveis são possíveis.

Há humorista que usam como “acessório” suas aparências e facécias, com as quais provocam risos; ocorrem-me agora as figuras de Charles Chaplin, o “Carlitos” e Rowan Atkinson, o “Mr. Bean”, por exemplo. A forma de humor deles era trapalhã, de jeitos e trejeitos, sobretudo; e ninguém irá negar se os conheceu, que riu assistindo.

Ter uma aparência ou estilo risível ajuda, pois. Há o humor previsível, que todos sabem no que vai dar, e mesmo assim, tem lá sua graça, como a trupe do Chaves, (Roberto Bolanhos) por exemplo. Naquele caso, o cenário e a sina inelutável dos personagens provocavam risos, ainda que monótono.

Há o ridículo posando de risível, estilo “Zorra Total” que salvo raríssimas exceções, não fossem os risos “enlatados” teria a animação de um funeral. O humor inteligente, atrevido, estilo pegadinha, folgando às custas alheias, como o CQC, por exemplo.

Fazer humor escrito, a meu ver, é a parte mais complicada da arte, pois, precisa do “acessório” da inteligência, espirituosidade e perspicácia de quem lê. A tirada pode ser genial, e se perder, por falta desses ingredientes na outra ponta da linha.

Gênios como MIllôr Fernandes, Mark Twain, Luis Fernando Veríssimo, podem soar sem graça; produzirem o risível com maestria e soarem ridículos, pois a faceta mais preciosa da arte, é o feeling de seu apreciador.

Esse estilo mais refinado de humor lança mão de trocadilhos, ironia, sarcasmo, sempre contando com a capacidade das mentes que visa cooptar.

Mas, o humor mais hilariante de todos, a meu ver, é o inusitado, espontâneo. Entrevistadores espirituosos como Jô Soares, Danilo Gentili, por exemplo, que com sua argúcia, sacam o risível de improviso, e produzem a piada imediata, com sabor de pão quente.

Dentre todos os aspectos risíveis que fazem o humor, pois, a surpresa, a sacada instantânea, parece-me o mais precioso; afinal, mesmo não tendo o humor em foco, Salomão escreveu algo que relembro: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita no tempo certo”. Pv 25 11.