Cotas raciais - crítica

Não é de se admirar que as cotas raciais tenham sido aplicadas no Brasil com tanta aceitação e, até mesmo, admiração pelo povo brasileiro. Acredita-se que temos no governo pessoas realmente preocupadas com a inserção das minorias, compromissadas com a questão da igualdade, redemocratização, e agindo conforme essas virtudes. Infelizmente não é disso que se trata, mas sim de caminhos mais fáceis, medidas meramente paletativas e objetivos egoístas. E isso não é exagero. É necessário sim resolvermos o grande problema do preconceito racial, e das sérias e terriveis consequências do mesmo, mas certamente não é realizando uma desigualdade real para chegar a uma igualdade ideal.

Com uma história marcada pela colonização portuguesa, de fato começamos errado. E isso não só no que se diz respeito às raças, mas em inúmeros âmbitos da sociedade, como a desigual distribuição de renda no país. Percebendo isso, o governo resolveu agir, e nós, ansiosos por alguma mudança, aplaudimos de pé. Então se instituiu o Bolsa Família e, não muito tempo depois, as cotas raciais. Ao invés de haver um pesado investimento em infraestrutura e no ensino público básico, para que essa parte miserável da população possa concorrer dignamente no mercado de trabalho, o governo dá para cada família uma quantia de apoio para os custos mensais. E problema resolvido. Temos agora boa parte dos brasileiros dependendo da ajuda de custo do estado.

Em relação às cotas raciais, primeiro devo elucidar que o problema de acesso às universidades públicas não advém do preconceito racial, e sim da desigualdade social. As dificuldades financeiras da parcela da sociedade que vive miseravelmente limita sua possibilidade de se empenhar com deveria aos estudos, para que então possa prestar vestibular e concorrer de igual para igual com os demais. Além de não possuírem a mesma qualidade de ensino que é dada aos que frequentam as escolas particulares. Observar as cotas raciais sem considerar a condição social do indivíduo é preconceito racial. Pois se nesta cota estão incluídos os negros de todas as classes sociais, então os negros e brancos com as mesmas dificuldades estudantis não estão no mesmo nível? Se achamos que não, concluímos categoricamente que os brancos são mais capazes que os negros. Além disso, certamente estamos indo contra o Artigo 5º da Constituição, que declara a igualdade entre todos os indivíduos. Passamos a ter um estado racionalizado, que não apenas é inconstitucional, como faz com que eternizemos exatamente o que desejamos erradicar, a separação entre os cidadãos.

No caso das cotas raciais em que se considera a situação social do indivíduo, apesar de ser mais “justa”, a questão se encontra também na necessidade de se investir a longo prazo na base do problema. Reconstruir nosso ensino público fundamental que se encontra desfacelado, em estado de calamidade, seria a postura certa a ser tomada pelos políticos. Ela acarretaria não só em maiores oportunidades para os marginalizados, mas em uma mudança de mentalidade, extremamente profunda, que culminaria também na solução do preconceito racial.

Mas tudo isso levaria muito tempo, muito dinheiro, e fazer algo, mesmo com efeitos superficiais, é preciso, pois as eleições estão chegando.

AlessandraMO
Enviado por AlessandraMO em 14/12/2012
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