PRIMEIRA MARCHA

Olho para carteira aliviado. Estou com o dinheiro certo, para pôr gasolina no carro de meu pai, um Uno Mille, ELX Eletrônico, mil novecentos e noventa e cinco. Não sei o tempo exato em que fiquei dirigindo, sei que foi longo. Era a primeira vez que sairia sozinho com o carro. Previamente instruído, ligo o automóvel e analiso o quadro. Temperatura do motor, ok; freio de mão, acionado; gasolina, uns quinze litros.

Saindo da garagem, não tenho problemas, a garagem é larga, e bem devagarzinho, conquisto a rua. Na minha frente, a liberdade, já que meu pai está viajando, minha mãe dormindo e as pessoas não sabiam que eu até então não dirigia. Primeira marcha, no compasso do coração, acelero um pouco, tiro o pé esquerdo da embreagem e também no compasso do coração o carro vai saindo, um vai e vem da aceleração motora me faz suar frio. Arrisco acelerar um pouco, mas, controlando o carro e nela, a primeira marcha, vou descobrindo o prazer de dirigir.

Avisto um quebra-mola e pareço ouvir meu pai dizendo: “antes do quebra-mola, diminua, não freie ao passá-lo...” eu estava muito devagar, não tinha como diminuir, o carro de injeção eletrônica mal regulado apagaria. Passo tranquilamente o dito cujo.

Entro em uma rua sem calçamento, por ser menos movimentado, avisto um jegue, aprendo ali que: eu, um automóvel e um animal, combinação nada legal, depois conto, os motivos. Ainda atravessando o animal, o filho de uma égua relincha forte, me assustando, me fazendo apagar o carro, controlada a raiva e o susto, continuo meu caminho.

Lembro que ainda estou na primeira marcha, mas, e daí. Devagarzinho, perco o medo inicial. Meus pés não são mais controlados pelo coração, pelo menos o direito, pé do acelerador e do freio.

Arrisco ir para a avenida principal da cidade, agora, a adrenalina toma conta, não me faz mais forte e sim, medroso, muita gente na rua, mania das pessoas na cidade pequena em dividir espaço com os carros, como estou devagar, e quase sem acelerar, não se torna um problema, controlo na raça o troço que dirijo. Ainda receoso, tiro uma das mãos, para acenar para uns conhecidos, que me olham sorridentes, mas, que lá no fundo me dizem: “otário”.

Sinto-me mais ousado, começo a andar um pouco mais rápido, porém, não troco a marcha, às vezes o motor pede, mas, logo dou um jeito de o não precisar. Continuo a me ousar, passo em frente à delegacia, o policial, graças a Deus, desconhecendo a situação, me adverte apenas para usar o cinto, mas, ignoro, como todos por aqui.

Olhando no quadro do veículo, percebo que estou sem gasolina, lembram quando comecei a aventura? E esse veículo é bem econômico. E fico pálido, por gastar tanto combustível assim num passeio pela cidade. Volto para casa, e na porta da garagem estou, pronto para voltar às ruas e abastecer o veículo. Estou com uma dúvida, o que fazer depois de abastecê-lo. Se, volto para casa ou se passeio mais um pouquinho?. Bom, decido depois. Pronto pra sair, observo minha mãe na porta de casa, cabelos arrepiados, boca aberta, cor amarelada e corpo tremulo perguntando o que fiz. Vocês acham que eu disse? É ruim!

João Áquila
Enviado por João Áquila em 06/03/2007
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