Meu credo incrédulo
Eu não creio que os vereadores, "ao apagar das luzes de seus mandatos", queiram demonstrar de forma inequívoca seus comprometimentos com interesses privados em detrimento dos interesses coletivos, os quais normalmente o cidadão espera de seus representantes em ambiente democrático e "isento de tendências”.
Não poderiam deixar transparecer aos seus eleitores que, a atitude tomada nesse momento, venha selar de vez o entendimento de que os representantes do povo ocupam os cargos, altamente motivados por interesses espúrios e de clara prevaricação, curvados ao poder de interesses malversados de empresas oportunistas e sabedoras da forma como se dobram valores de uma sociedade fragilizada pela ignorância de seus edis.
Assim, como um cidadão inocente e crente na mais pura forma de representação de sua vontade em prol do coletivo, busco entender nos alfarrábios as atitudes que hoje campeiam todos os cantos da nação, desde a menor aldeia, até o Estado como um todo.
Vejam o esforço imenso de um Supremo Tribunal do país, 7 anos após o conhecimento da forma de se comprar votos na Câmara, para condenar muito mais o expediente utilizado que os cidadãos corruptos e/ou corrompidos, a partir da casa que o povo deu de morada provisória aos eleitos e seu séquito de servidores interessados muito mais no poder aviltado que no bem servir ao povo.
Da reflexão dos textos que se seguem, poderíamos estar em alguma fase da derrocada de nossa frágil democracia?
Em que estágio estaríamos nesse malfado caminho rumo à fragilização do poder emanado do povo democraticamente, segundo os filósofos?
Assim, buscando apoio nas várias idéias, tomei apenas dois pequenos textos de Voltaire e Montesquieu, para colocar à disposição dos edis, que espera-se sejam capazes de entender o que nos trouxeram no passado esses dois brilhantes estudiosos, e que quiçá possa nortear princípios que os traga de volta ao âmago de suas passageiras existências, e possam ainda conquistar o respeito do povo, sem caírem na vala comum dos esquecidos pela história, ou lembrados de forma jocosa e desrespeitosas que possam envergonhar seus descendentes por várias gerações futuras.
Assim, mister se faz o resgate dos princípios da ética e da honra, em tempo para que possam se recuperar das fraquezas para as quais eventualmente tenham sucumbido, as quais poderiam levá-los à submissão, qual vassalos a serviço de uma ordem de “estrangeiros” que pouco primam pelo conforto do cidadão honesto e trabalhador, que quer viver apenas no seu rincão, tal qual ele fora pacientemente criado pela natureza como extensão e mercê de Deus, e que lhe deu por mais de um século, meios de vida e prazer da liberdade em sua exuberante natureza, último reduto ainda intocado, às margens desse tão querido Rio Paranapanema. Não serão “pequenos agrados” ao cidadão que os motivará a aceitar perder parte de seu legado natural. “Pequenos agrados” estes que seriam perfeitamente possível de ser conquistados através de um bom trabalho legislativo e gestão municipal inteligente em prol do conforto do cidadão, sem abusar da inocência dos que os elegem, pensando ter-lhes dado o voto, na confiança de que seu bem estar estaria sendo sempre o alvo, como pensamento coletivo.
Para reflexão:
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Do dicionário filosófico de Voltaire:
“PÁTRIA”
“Uma pátria é um composto de numerosas famílias; e, tal como de ordinário sustentamos a nossa família por amor-próprio, quando não há interesses contrários, assim sustentamos, devido ao mesmo amor-próprio, a nossa cidade ou a nossa aldeia, a que chamamos a nossa pátria. Quanto mais essa pátria se torna grande, menos é amada, pois o a mor partilhado enfraquece. É impossível amar uma família demasiado numerosa que mal se conhece.
O que arde na ambição de ser edil, tribuno, pretor, cônsul, ditador, grita que ama a sua pátria e apenas ama a sua própria pessoa. Cada qual deseja estar seguro de poder dormir em sua casa sem que o outro homem se arrogue o poder de mandá-lo dormir algures; cada qual quer se sentir seguro da sua fortuna e de sua vida. Uma vez que todos constituem assim os mesmos desejos, verifica-se que o interesse particular se torna interesse geral; fazem-se votos pela república quando afinal os fazemos tão só por nós mesmos.”
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De Montesquieu no seu “O Espírito das Leis” – Livro Oitavo – Da corrupção dos princípios nos três governos – Capítulo I
“A corrupção de cada governo começa quase sempre pela dos princípios”
Da corrupção do princípio da democracia
Corrompe-se o espírito da democracia não somente quando se perde o espírito de igualdade, mas ainda quando se quer levar o espírito de igualdade ao extremo, procurando cada um ser igual àquele que escolheu para comandá-lo. Então o povo, não podendo suportar o próprio poder que escolheu, quer fazer tudo por si só: deliberar pelo senado, executar pelos magistrados, e destituir todos os juízes.
Não pode haver mais virtude na república.
O povo quer exercer as funções dos magistrados que não são, portanto, mais respeitados.
As deliberações do senado não têm mais força, não havendo assim, mais considerações pelos senadores e conseqüentemente pelos anciãos. E, se não se respeita os anciãos, também não se respeitará os pais, e os maridos não merecerão, igualmente, mais deferências, nem os patrões tampouco merecerão submissão; todos passarão a apreciar essa libertinagem; a pressão do comando fatigará tanto como a da obediência. As mulheres, as crianças, os escravos não mais se submeterão a pessoa alguma. Os costumes e o amor pela ordem desaparecerão. Enfim, não mais existirá virtude.
Vê-se no Banquete de Xenofonte (Platão – República), uma pintura muito ingênua de uma república em que o povo abusou da igualdade. Explica cada conviva, por sua vez, a razão porque está contente consigo mesmo. “Estou contente comigo”, diz Cármides, “por causa de minha pobreza. Quando era rico, era obrigado a prestar homenagens aos caluniadores, sabendo muito bem que estava mais em condição de ser prejudicado por eles do que prejudicá-los: a república exigia-me sempre alguma nova contribuição; não podei ausentar-me. Desde que me tornei pobre, adquiri autoridade; ninguém me ameaça mas eu ameaço os outros; posso partir ou permanecer. Os ricos já se levantam de seus lugares e me cedem a prioridade. Sou um rei, era escravo; pagava um tributo à república, hoje ela me sustenta; não receio mais perder, espero adquirir”.
O povo cai nessa desgraça quando aqueles em quem confia, procurando ocultar sua própria corrupção, buscam corrompê-lo. Para que sua ambição não seja vista pelo povo, eles apenas falam da grandeza do povo; para que não se perceba sua avareza, elogiam incessantemente a do povo.
A corrupção aumentará entre os corruptores e também entre os que já estão corrompidos. O povo distribuirá entre si a fazenda pública e, como terá unido a gestão de negócios à sua preguiça, desejará reunir à sua pobreza os divertimentos do luxo. Mas, com sua preguiça e seu luxo, terá como objetivo apenas o seu tesouro público.
Ninguém deverá se espantar se votos forem comprados a dinheiro. Não se pode dar muito ao povo sem retirar dele ainda mais; porém, para retirar dele é necessário subverter o Estado. Quanto mais o povo pensa em aproveitar sua liberdade, mais se aproximará do momento em que deve perdê-la. Cria pequenos tiranos que possuem todos os vícios de um só. Em breve, o que resta da liberdade torna-se insuportável; surge um único tirano; o povo perde tudo, até mesmo as vantagens de sua corrupção.
A democracia deve, portando, evitar dois excessos: o espírito de desigualdade, que a conduz à aristocracia ou ao governo de um só; e o espírito de igualdade extrema, que a conduz ao despotismo de um só, assim como o despotismo de um só acaba pela conquista.
É verdade que aqueles que corromperam as repúblicas gregas nem sempre se tornaram tiranos. É que eles eram mais afeiçoados à eloqüência do que a arte militar, além de existir no coração de todos os gregos um ódio implacável contra os que derrubavam o governo republicano. Isso fez com que a anarquia degenerasse em aniquilamento, ao invés de se transformar em tirania.
Mas, SIRACUSA, que se encontrou situada em meio de um grande número de pequenas oligarquias transformadas em tiranias. Siracusa, que tinha um senado quase nunca mencionado em sua história, experimentou desgraças que a simples corrupção não produz. Essa cidade, sempre na licença (tendo expulsado os tiranos, fizeram cidadãos os estrangeiros e os soldados mercenários, o que acarretou guerras civis), ou na opressão, igualmente trabalhada por sua liberdade e por sua servidão, recebendo sempre a uma e a outra como a uma tempestade,e, apesar de seu poderio no exterior, sempre conduzida a uma revolução pela mais fraca força estrangeira, tinha em seu meio um povo imenso, ao qual só restava essa cruel alternativa de se entregar a um tirano ou de sê-lo ele mesmo”
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Sobre Piraju-SP e a busca de quebrar leis que possam atender interesses privados
2012 – Construção de mais uma Usina Hidrelétrica na cidade, e a cisma de que vereadores “se deixaram convencer” pelos interessados na Geração de Energia.
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