Uma luz dentro do túnel

Usamos a expressão, “uma luz no fim do túnel” com o fito de transmitir esperança, alento. Mas, o fim do túnel nos remete ao ar livre, e aí, mesmo durante a noite, há luz, em comparação com um túnel. Dessa forma, não há uma luz no fim do túnel, mas, a luz é o fim do túnel. E, quem precisa de esperança quando a realidade sorri?

Acho que carecemos uma luz quando dentro do túnel, em momentos de desespero, abandono, solidão. Nesses momentos, de certa forma estamos “sepultados vivos” e ansiamos que alguém abra nosso esquife.

Ser essa luz, esse amparo aos desvalidos da sorte demanda sensibilidade, empatia, senso de ocasião. Tem gente superficial que acha que a tristeza se remove com espanador, bastando repetir um ou dois chavões, estarão sendo conselheiros sábios.

Salomão, o grande sábio pensava diferente: “Prata escolhida é a língua do justo; o coração dos perversos é de nenhum valor.” Pv 10; 20 Ele não parecia advogar o teor meramente emotivo do falar, mas, mesmo com o fito de ajudar, balizar as palavras pela justiça, ou seja, sem falsear a verdade.

Não basta, pois, aos ouvidos de quem está sofrendo, desconsiderar os motivos, e tentar reanimar de forma superficial; “O que canta canções para o coração aflito é como aquele que despe a roupa num dia de frio, ou como o vinagre sobre salitre.” Pv 25; 20

Não podemos desconhecer a aflição de quem está sofrendo, tampouco mensurar a sua vera intensidade; afinal, seja alegria, seja tristeza que esteja em voga, só o seu hospedeiro a conhece. “O coração conhece a sua própria amargura, e o estranho não participará no íntimo da sua alegria.” Pv 14; 10

Ademais, a tristeza nem é de todo ruim. Nossas quedas eventuais, podem ser apenas os “dentes de leite” marcando etapas de nosso crescimento psicológico e espiritual; como disse alguém: “As verdadeiras desgraças são aquelas com as quais, nada aprendemos”.

E em termos docentes, a tristeza se avantaja em muito à alegria, como diz uma quadrinha que segue: “Andei uma légua com a alegria, incansável tagarela; ainda que falasse tanto, eu nada aprendi com ela; Andei uma légua com a tristeza, que sequer comigo falou; ah quanta coisa aprendi, quando a tristeza comigo andou!”

Então, se o trilho da vida nos conduz eventualmente a um túnel, passar com resignação e colher aprendizado será nossa luz; se alguém nesse estado carecer nossa ajuda, tenhamos senso de ocasião e prudência, como ensina o mesmo Sábio: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, é a palavra dita no tempo certo”. Pv 25; 11

Certo é que, muito consolo, conselho, alento, vida, têm sido carreados nos vagões das palavras; entretanto, porção igual ou maior de vezes, a língua tem sido usada como punhal.

“Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que teu silêncio”. Prov. indiano