A minha boneca
Quando criança eu e minha família passamos por dificuldades. Minha mãe lutava para nos criar, trabalhava dia e noite, numa máquina de costura e tentava através do carinho, compensar a falta do bem material.
Na década de 1980, brinquedo era artigo de luxo para as famílias de baixa renda. Minha mãe sabia que eu ansiava uma boneca, e ela mesma sempre quis dar-me uma, assim moreninha como eu.
Lembro que, às vezes, colocava um pano, na cabeça dos meus bonecões de plástico, para fingir-lhes bonecas. Tamanho era meu fascínio por bonecas grandes.
Um dia sem esperar, minha mãe apareceu dizendo que me daria uma boneca. Fiquei muito contente, e com a imaginação de uma criança de cinco anos, fiquei a pensar como ela seria.
Meus irmãos teimavam que seria menino, mas eu sabia que ia ser menina. Alguém para me ensinar a vestir vestido e colocar laços no cabelo.
O tempo passou, lembro da minha mãe batendo na porta do quarto, eu sonolenta, quando dei por mim, ela havia se despedido para ir ao hospital.
Levantei correndo, meus irmãos empurravam o fusca que não queria pegar.E foi assim, com o susto da porta do carro a bater, a chegada de minha mãe ao hospital.
Ficamos na casa de minha tia, enquanto minha mãe não recebia alta. E logo que ela retornou, eu e meus irmãos fomos vê-las.
Lembro-me como se fosse hoje, ao adentrar no quarto de minha mãe, avistei na beirada da cama, envolta em mantos, a boneca mais linda que meus olhos já tinham visto, aquela que dinheiro nenhum no mundo podia comprar, Deus me concedera como irmã.