Não faça minha mãe chorar
Minha mãe sempre batalhadora lutou para nos criar. Desde cedo, soube que mais sozinha teria que lutar. Meu pai gente boa, eu sei, mas ainda não havia entendido o que era ser marido.
Surpreendia-me ao vê-la somar, não necessitava calculadora para lhe ajudar, muitas contas de cabeça ela fazia. Sempre foi pra mim um exemplo, da sua própria vida abdicou para dos filhos cuidar.
Um dia me apareceu uma certa senhora, prima de minha mãe, estudada, era mais que mestrada e com minha mãe foi conversar. Minha mãe na sua simplicidade ouvia com lealdade, o que ela estava a lhe narrar.
_Maria, não entendo como você, uma mulher cheia de querer, nesse fim de mundo veio se meter. Minha mãe sorria meio desconcertada, a boa educação lhe ensinara não maltratar aos que em sua casa se acomodara.
_Desculpe minha senhora, meus filhos pra mim são uma glória, tudo o que fiz fui por querer, ninguém me obrigou a fazer. Escolhi meu caminho e não me arrependo, só posso te dizer que sou feliz, e você o que me diz?
Neste momento entrei na sala e me despedi, aquelas falas me acompanharam pelo caminho, sabia que o que minha mãe dizia era real. Mas o que aquela senhora achava afinal, minha mãe não tinha estudo, mas para mim era a melhor mãe do mundo.
Resolvi colocar no papel, as conquistas de minha mãe: honra ao mérito pelas noites sem dormir, doutorada em carinho, medalha de ouro no quesito amizade, destaque pela abdicação, pós-graduada em amor, primeiro lugar em maternidade e outros que me esqueci...
E finalizava assim, na verdade, não devemos subestimar a felicidade do outro, todos temos as nossas vitórias, necessariamente a felicidade tem formas diferentes de ser, para pessoas que não são iguais.
Já era noitinha quando a prima se despediu.
_Espera prima, fiz uma cópia dos títulos de minha mãe pra você, desculpe, mas não tive tempo de escrever todos, esta é só uma amostra, da próxima vez, que você voltar, posso enumerá-los para você. Mas não venha com pressa, pois para contabilizar as vitórias de minha mãe, precisaremos de muito tempo.
Ela sorriu desconcertada, enquanto passava um olho no papel. Não disse palavra, mas imaginei o que ela pensara.Seu semblante não demonstrava a mesma satisfação, que horas atrás, em conversa com minha mãe apresentara.
Após a despedida minha mãe me perguntou, que carta era aquela? Em suas mãos entreguei a original. Em silêncio, ela lia e relia o papel e não acreditara. Recorria aos meus braços e enquanto me beijava, me abraçava. Aquele amor era fiel, nada pedia pouco esperava e sempre agradecia, uma lágrima do seu rosto rolou, esta, porém não me incomodou.