Gabriela, a inteligente

Era uma menina inteligente. Pelo menos era o que todos lhe diziam.

Desde pequena enchia sua mãe de orgulho com suas notas boas na escola. Nunca faltou elogios de professores que se admiravam com o ótimo desempenho.

Matemática nunca foi um problema, tampouco Português ou História. Também gostava de Ciências e até em Artes fez trabalhos dignos de nota.

A família não perdia uma oportunidade:

- Olha, como minha filha é estudiosa! Olha, como minha neta é esforçada! Olha, como minha sobrinha é inteligente!

O que ninguém poderia imaginar era o quanto a suposta inteligência era como um cárcere sombrio e solitário.

A bagagem da inteligência se tornou pesada demais. Nunca ouvia que era bonita, que era gentil, que era simpática - ou qualquer outra coisa. Era apenas "Gabriela, a menina inteligente".

Um dia, se deu conta de um fato terrível. Sua vida toda foi uma ilusão. Nunca foi inteligente.

Inteligente de verdade é quem sabe viver com a mesma alegria e simplicidade de uma criança. É quem sabe sorrir sem motivo, é quem estende a mão à quem precisa, é quem se torna querido com todos à sua volta.

De que vale decorar as capitanias hereditárias, a tabela periódica e a fórmula da equação de 2º grau e ser completamente incapaz de despertar simpatia nas pessoas?

Estava fadada a carregar o peso da falsa inteligência, um caminho vazio e sem volta. Se pudesse, trocaria todos os "10" que tirou na vida por um carinho sincero, um abraço. Alguém que realmente gostasse da sua presença e enxergasse qualquer coisa boa nela que não fosse o fato de ser inteligente.