Sobre o tempo e o relógio

Seria o tempo uma mera ilusão ? Do ponto de vista pessoal ou coletivo, ou indo mais além; do ponto de vista científico, filosófico ou histórico, seria absurdo afirmar que o tempo em si não existe? Não podemos vê-lo ou tocá-lo, tampouco nos é dado o direito de guardá-lo. Muito embora insistamos em usar expressões como aproveitar o tempo, ou desperdiçar o tempo, meditando sobre o assunto não é difícil chegarmos à simples e polêmica constatação de que o tempo enfim , não existe.

Como é possível? dirão alguns, porventura não temos todos o relógio? esse instrumento fantástico que nos prova que o tempo é real, e insistentemente nos obriga a viver de acordo com as suas regras? Fazemos parte de uma sociedade escravizada pelo poder do relógio e pelos horários rigorosamente pré-terminados por ele para cada atividade do dia, e ai de quem perder a hora!

É fato constatado que para o ser humano o tempo sempre foi um mistério, portanto levando à necessidade de criar um meio de medi-lo, na tentativa de melhor compreendê-lo. Os primeiros registros históricos a que temos acesso datam de aproximadamente 5.000 anos A.C., quando na Babilônia provavelmente foram criados os primeiros relógios de sol; a partir daí, o homem não cansaria jamais de empreender esforços no sentido de aprimorar o seu sistema de medição do tempo.

Vivemos hoje em uma geração que pode desfrutar da informação e dos conhecimentos adquiridos por nossos antepassados através de séculos de empenho e pesquisa, como quem se senta em um grande restaurante e manda vir os pratos mais caros e mais saborosos que existem e que são todavia preparados por outras pessoas. Este é, como acontece com tantas outras maravilhas da tecnologia ao nosso alcance, também o caso do relógio. Todos temos relógios, todos usamos os mais diferentes tipos de relógios: de parede, mecânico, de pulso, digital, analógico, e já existe até o precisíssimo relógio atômico, contudo poucos são os seres humanos que hoje refletem sobre esta grande inquietação que absorveu tantos sábios do passado: a capacidade de compreender o que é o tempo.

Não me parece suficiente a definição dos dicionários: “tempo é a medida de duração dos fenômenos”; menos ainda , a definição de um físico: ” tempo é o parâmetro que descreve a mudança de um sistema a partir de um estado”. Voltemos então ao relógio, única testemunha fiel do tempo passado, única expectativa de certeza do tempo futuro; embora tampouco me pareça adequado, lançar sobre o objeto criado o dever de definir algo tão complexo como o tempo, sendo este apenas a causa primordial de sua criação. Resta-nos portanto, o optar pela continuidade da dúvida, a qual é sempre amiga das maiores e mais valiosas descobertas; tendo em vista que, por mais que mantenhamos os relógios ajustados, o tempo que penso ter já não o tenho, pois já passou, por quê seria absurdo afirmar que o tempo não existe? Permanece então a proposta: seria o tempo uma mera ilusão?

LETICIA RACHEL FERNANDES DA SILVA

Curso Letras-Inglês

1º Período Noturno

Universidade Estácio de Sá