A diferença e Drummond

Se de um lado o menino cresce para a vida, acompanhado das letras da segunda infância, por outro, o homem estudado, já com as frases formadas sustentando seu saber, per vida toda, onde quer que esteja, a saudade do menino aprendiz estimularia seu do ensejo do recordar e retratar nas palavras, sua saudosa infância.

Ainda garoto vai para o Colégio Anchieta e se depara com uma expulsão proveniente de desavenças com o mestre de sua língua e por insubordinação “mental”. Ele era diferente, ele era Drummond. Esta era a grande diferença dentre os demais alunos e era por estas diferenças que crescia dentro de si o espírito poético que o país teria no futuro.

Começa então a publicar seus primeiros trabalhos, já com suas marcas profundas em uma coluna que se denominada “Sociais”, era a própria foto da época publica em forma de palavras em um jornal de circulação local.

O primeiro reconhecimento viria logo em seguida e que fizeram jus as cinqüenta mil moedas da época conquistado em um concurso. “Novela Mineira” se agradou de suas palavras que compunham “Joaquim do Telhado”.

O namoro na praça era acompanhando por duas irmãs mais novas da linda namorada, irmãs estas que mais tarde viriam ser personagens de “Luz del Fuego”. Mas o romance não desabrochou com o destaque merecido. Um incidente decorrente da imaginação do poeta e um amigo, envolvendo as irmãs de sua paixão, terminou quase em incêndio deixando a dupla apavorada, diante da “tragédia” inesperada e não calculada afastou de si mesmo a jovem, que fora proibido, pelo pai, aos encontros com o poeta.

Tudo que temos na vida, que nos trás bons frutos é o encontro com pessoas especiais, pessoas que fazem diferença em nossas vidas. Isto não foi diferente com Drummond, ao conhecer Mario e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral entre outros, fez com que sua vida tomasse um rumo distinto e único. Desses encontros nasceram grandes projetos, nesses encontros geraram vida e fizeram com que novos caminhos se abrissem a sua frente e conseqüentemente levaram Drummond ser o “Carlos Poeta do Brasil”.

Em meio a sua eterna busca pela obscura “poesia”, tentou extrair a química das formulas de seus estudo, que tanto ansiava aqueles que o cercavam. Formou-se no que nunca extrairia uma única combinação farmacológica, pois o sentido de seus frascos, iriam somente guardar a essência das palavras mágicas de sua vida.

Esse era Drummond, diferente, apaixonado de tal modo que somente conseguira falar o que sentia, o que estava dentro de si, com palavras, não palavras ditas, mas palavras escritas. Diferente? Em que? Talvez nós é que somos diferentes, e ele? Ele era um artista que tinha como musa o seu interior e pincelava nas telas do tempo as cores do sentimento, transformando-os em sons especiais, ouvidos por aqueles que sentiam o que ele sentia, a paixão pela vida.

Sua época era marcada pelo não liberalismo e onde somente os homens eram os cidadãos do país, numa época onde a mulher era o objeto de inspiração e não obstante de Drummond, ser um cidadão diferente, casa-se com Dolores Dutra de Morais, a primeira mulher a trabalhar em um emprego. Outra diferença em quem era diferente.

Do fruto desse encontro de vidas nasce seu filho, que buscando a vida desde o princípio, mas não teve o fôlego suficiente para tal, brusca como a vida, brusca como a morte, não resiste e nem suspira, falece Carlos Flávio. Um pedaço de si escorrega pelas mãos de Drummond.

Após o primeiro rompimento do elo pai e filho, quando não nasce Carlos Flávio. Maria Julieta vem ao mundo para ser sua grande amiga e a maior companheira do poeta por toda sua vida. Uma amiga inseparável, a ajudadora da poesia.

“Tropeço” ou não na “pedra” simbólica da vida publica, “No meio do Caminho” parece não soar bem aos ouvidos impuros. Uma “obra literária”, que ainda em sua juventude teve grande repercussão e que, de certo modo, escandalizava a literatura Brasileira. Escandalizava para que em sua idade adulta se transformasse em realmente uma “Obra Literária”, com “O” maiúsculo.

O modernismo estava sempre presente no estilo de Drummond que acabou levando-o, com sua nova linguagem para diferentes ritmos, à popularização de seus versos em um país onde pouco se lê ou muito não se lê.

E agora, José?__A festa acabou__a luz apagou__o povo sumiu, são versos que entraram e marcaram a História Literária Brasileira, versos que se tornaram ditos populares. Mantem-se presente no linguajar popular de forma excepcionalmente e bela e rítmica: Mundo mundo vasto mundo__se eu me chamasse Raimundo__seria uma rima, não seria uma solução. Um linguajar bonito, repetitivo, mas que não se repete e só o repetitivo faz soar como o som de uma sinfonia.

Demonstrando grande amadurecimento já se distanciava cada vez mais dos tradicionalistas, do formal, do uso da linguagem coloquial, retratado em seu livro “Alguma Poesia”, deixou com isto, estampado na segunda fase do Modernismo Brasileiro, seu nome e sua obra, a marca da historia da poesia Brasileira, diferente.

Acaba por perder em seu pai, Carlos de Paula Andrade, com 70 anos. Três anos mais tarde publica “Brejo das Almas”, uma obra sem compromisso programático. Hoje este livro é de fundamental importância para que se possa acompanhar o desenvolvimento da obra drummondiana.

Temas fortes como o desajustamento do indivíduo, ou as preocupações sócio-políticas, de sua época foram, por ele, traduzidas com a leveza de suas palavras, mantendo sua escrita suave, com humor e uma sóbria ironia, assim foram impressas em “A Rosa do Povo”.

Em “O Fazendeiro do ar” e “A Vida Passada a Limpo” evidenciam uma preocupação maior com a construção formal e o aproveitamento de modelos clássicos. Mais carioca que itabirano, falava das raízes mineiras, da sua fixação sentimental pelas origens. Sempre admirava a vista da Pedra do Arpoador e brincando de se esconder entre as pilastras do Ministério da Educação, menino crescido e adulto diferente, brincalhão.

Mais de vinte anos se passaram e muitas obras contribuíram para a historia da literatura Brasileira, sempre repleta de muita modernidade, um poeta a frente de seu tempo e do seu mundo.

Já na década de 80 ele perde uma das mais companheira de toda sua vida, perde a mulher que mais amou, perde a amiga inseparável, a confidente de uma vida toda, sua filha Maria Julieta, diz então Drummond: “E assim vai-se indo a família Drummond de Andrade!”.

No mesmo ano, da morte da filha, a Literatura perdia Carlos Drummond de Andrade, em uma clínica, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Despede-se da vida e do amor secreto, e como em um ato de despedida, deixa a vida de mãos dadas com Lygia Fernandes, sua “namorada” com quem manteve um romance paralelo ao casamento e que durou 35 anos, talvez a fonte de muitas de suas inspirações, “a pedra no caminho”, O José e não o Carlos, talvez!

Domingos Richieri
Enviado por Domingos Richieri em 18/08/2012
Código do texto: T3836172
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