Sol dos dias quentes de Agosto

Quem vê seus olhos perdidos no tempo, contemplando atentamente a linha do horizonte, não imagina que esses olhos aprenderam a ler muito cedo. Primeiro, as letras do seu nome, passando pelas palavras estrangeiras e indo muito além disso.

Não só leitor de palavras, ele aprendeu a ler o olhar das pessoas que passavam pelo seu caminho. Sabia distinguir a dor e a tristeza que transcendia a alma humana, dilacerando-a e fazendo-a disforme. Muitas vezes, teve medo das almas negras e cheias de ódio, totalmente desprovidas de luz, que viu pela vida.

Sabia ler seu caminho, de amores intensos, muitas vezes não correspondidos que tentava trilha-los e quando já não podia, escrevia um novo caminho para si, deixando para traz o que lhe causava angustia e apertava seu coração. Entendia que um ponto final era só o primeiro passo para o recomeço de uma nova e linda história.

Aprendeu a ler, com detalhes, as pétalas das rosas e ficava impressionado com a riqueza exuberante e deliciosa do cheiro da flor da laranjeira. Lia os pequenos gestos, singelas atitudes, e na simplicidade das pequenas coisas, descobriu que era ali, que morava a tão sonhada felicidade, almejada e desejada pelos ricos e poderosos.

Sentia-se privilegiado por saber que em um mundo tão grande, as pequenas, e muitas vezes menosprezadas coisas, eram as mais valiosas.

Conseguia ler a vida de forma única.

Não lia a aparência das pessoas, e sim a essência que cada uma levava em seu interior, por isso, sabia escolher bem as pessoas que permaneceriam ao seu lado, aquelas que marcariam para sempre a sua vida.

Entendia que o perdão era a borracha que apagava a tristeza, o remédio que curava a dor que aflige a alma, deixando apenas uma marca, um sinal, talvez para lembrar que um dia doeu, doeu tanto, que ele até chegou a achar que ia morrer, mas passou, não dói mais, e hoje ele está imunizado, mais forte do que nunca.

E como exímio leitor que era, fechava os olhos e conseguia ler o canto dos pássaros, a voz eufórica ou melancólica do outro lado da linha, e por muitas vezes, se pegou lendo a própria alma, cheia de medos, de amores, de angustias, porém cheia de fé, muita fé em si, uma fé alegre, inabalável, que iluminava todo o seu interior, como o sol dos dias quentes de Agosto.