Redação escolar



 Nasci e moro em um lugar onde as pessoas são felizes, porque lá as famílias moram em casas que as paredes não caem nas épocas de temporais, nem os telhados saem voando junto com os ventos fortes.
As ruas não ficam inundadas nos dias de enchentes e ninguém precisa carregar lata d d´água na cabeça por enormes distâncias, tendo como paisagem uma terra rachada pela seca, que mata o gado e as plantações.
 
Esse lugar é muito bonito e os governos dele dizem para o mundo inteiro que ele é o 6º país mais rico do planeta. Melhor dizendo, dizem ser a 6ª potência econômica entre todos os concorrentes. E olhe que os concorrentes são muitos. Tem alguns concorrentes que tem até Rainha que mora em palácio, família real que tem muitas terras, muitos súditos, (súditos...ainda existe isto, sabia?) muito ouro, muitas jóias e o dinheiro deles é tão valorizado que eles não compartilham com ninguém mais do resto do mundo, com nenhum país, nem mesmo com países vizinhos deles.

Dizem, também, que esse lugar onde moro é um lugar onde é o povo que escolhe quem vai governar o resto do povo, aquele povo que não pode escolher  nada além de escolher a quem vai  obedecer .
Lá eles chamam isto de Democracia.
Que fiasco.


É um lugar muito organizado : muita gente tem muito poder e o poder tem muita gente que a gente nem sabe se é gente mesmo.
Tem um certo Poder Judiciário, que até hoje ninguém entendeu muito bem para o quê ou para quem serve, mas o nome desse Poder é muito bonito, exótico, exuberante e quase convence o povo quando diz que está judiciando.
Tem o Poder Legislativo - esse as pessoas sabem direitinho para o que serve e ninguém esquenta muito, porque além de não adiantar, são eles é quem vivem inventando leis para o povo obedecer, mesmo que seja alguma lei que já exista ou que não vá dar em nada. Mas o negócio dele é mostrar que está na área, firme, forte e rico. É um Poder bastante criativo.
E tem, ainda, o Poder Executivo, que promete que a qualquer momento vai  realmente  se reunir com os outros poderosos para decidir se ele, o Poder Executivo,  serve para alguma coisa ou não serve para nada mesmo. É só uma questão de tempo e que o povo precisa ser paciente. Ou melhor, precisa ser tolerante.

Pessoalmente, penso que ele se serve - e ponto.
 
Nesse lugar maravilhoso tem também pessoas maravilhosas que se maravilham com qualquer coisa que as pessoas dos outros lugares mandam dizer que a coisa seja espetacular como, por exemplo, andar na moda com roupas carésimas, mesmo que tenham que ficar devendo o olho da cara para pagar essas roupas que estou falando. Os modelos mais badalados dessas roupas costumam vir de lugares muito longe e são escolhidos por pessoas chamadas de estilistas. Esses estilistas escolhem as roupas que o povo do meu lugar vai usar, mesmo sem nunca terem vindo aqui conhecer as variações do clima. Por exemplo, quando é inverno por lá, as mulheres daqui usam botas longas e de couro, também - só que com umas saias bem curtinhas, porque aqui nós sentimos muito calor é no traseiro. Ainda bem que temos a cabeça fresca, então fica tudo bem harmonizado. A bunda esquenta, mas a cabeça fica fria.
 
Esse lugar onde moro tem hospitais maravilhosos  e as pessoas que ficam doentes tem tratamento que dizem ser de primeiro mundo, isto é, do início do mundo, mais precisamente da idade da pedra.
Mas a sorte delas é que elas não sofrem muito, porque costumam morrer nos corredores mesmo – ou da doença que trouxeram com elas ou com uma coisa esquisitíssima, chamada de infecção hospitalar.
Algumas pessoas bem inteligentes e espertas aproveitam esse descuido dos governos e vendem uns tais planos de saúde, que costumam não servir para muita coisa também, a não ser para tornar seus proprietários milionários.
 
Nesse lugar tem tudo que é novidade numa coisa que chamam de tecnologia , como celulares de várias marcas, computadores de todos os modelos e tamanhos, enfim, esse lugar é deslumbrado por marcas e novidades.
O problema, o único problema desse lugar, é que nada funciona como promete que vai funcionar.
Tudo nesse meu lugar  funciona mais ou menos.
 
Aliás, muito mais para menos do que pra mais...
 
 
Miriam Dutra
Enviado por Miriam Dutra em 07/08/2012
Código do texto: T3819120
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