A Língua e Suas Adoções
Ainda é complexo estudar os empréstimos lingüísticos em uma língua, pois se trata de um assunto polêmico, por ainda provocar determinados estereótipos negativos no meio acadêmico e no público em geral, enganosamente.
A lingüista e professora de Língua Portuguesa Nelly Carvalho após ler a fábula “A Revolta das Palavras” de Adair Pimentel Palácio, também lingüista, chega à conclusão de que os empréstimos lingüísticos são tão antigos quanto à história da língua, pois antes da Língua Latina, para a Língua Portuguesa, por exemplo, há o que se chama de migrações de palavras de uma língua para outra e impedir que esse fenômeno lingüístico aconteça é o mesmo que isolar uma cultura, para que não haja contato sócio-cultural. Ao observar este quadro, percebe-se que nos dias atuais seria quase que impossível o isolamento de uma língua, pois a quantidade de palavras “importadas” de outros lugares em línguas distintas, já é diacronicamente estável e se por acaso a língua isolar-se, tornar-se-á, em questão de tempos, obsoleta.
Então, ao invés das preocupações com as “invasões estrangeiras”, os falantes de uma língua deveriam criar bens culturais para serem cobiçados por outras sociedades, a fim de que ela venha ganhar prestígio, afinal, as línguas “desprestigiadas” podem tornar-se “prestigiadas” por heranças culturais. A exemplo disso pode-se encontrar a obra de Dante Alighieri, que fez do próprio dialeto, antes pobre, incluso e desprestigiado, ser a língua oficial da Itália.
A adoção de palavras estrangeiras não significa perder a identidade cultural, mas, sim, enriquecê-la lexicalmente. A língua Portuguesa, tomada novamente como exemplo, ganhou e vem ganhando vocábulos de diversas línguas: limão, bule, jaca, manga, etc (palavras asiáticas); banana, girafa, zebra, dentre outras (palavras africanas); chocolate, cacau, xícara, tomate (palavras da América espanhola); Peri, Itamaracá, Jaci, etc (palavras indígenas); dentre muitos outros.
Enfim, seria enganoso dizer que os empréstimos lingüísticos fazem mal à língua, pois esses apenas a enriquecem por ampliarem o léxico. Então, a complexidade desse assunto não está nele, de um modo geral, mas no próprio ser humano em não aceitar as adoções lingüísticas que, por sinal, já fazem parte da história da língua.
05/06/04