Hiato

Uma pena que devo sofrer longos hiatos de sua companhia, enfrentar as manhãs onde devo deixar aquele mundinho paralelo tão bonito e perfeito onde a única preocupação é o que iremos fazer no dia seguinte, mesmo assim, a resposta é irrelevante pois, ainda que não façamos nada, será bom porque estamos um perto do outro.

Mas chega o momento em que tenho de abrir os braços e te deixar ir embora, pra depois da linha do horizonte, sofro os primeiros ventos dessa separação antes mesmo do sol acordar para este dia difícil, estas não costumam ser minhas melhores noites e me pego rezando em silencio para que o relógio corra mais lentamente, que alguma ligação aconteça, que algo a atrase ou a convença a ir embora amanha, ou depois.

Choro quieto de madrugada e controlo a respiração ofegante e difícil devido ao nariz entupido pela tristeza, não quero que veja meu pranto velado, é bom que pareça que entendo a necessidade de te devolver pra tua terra, tua gente, não posso ter meu egoísmo escancarado na minha testa e mostrar a real vontade de querer te ter só pra mim, todo o tempo.

Mas aceito de bom grado e sem titubear a alcunha de egoísta se isso a fizer estar comigo mais tempo, permanentemente no que depender da minha vontade, aceito qualquer rotulo que me quiserem por para que isso aconteça, estar contigo é mais forte que qualquer apelido que eu venha a ganhar.

Tolice a minha acreditar que por meio de rótulos e apelidos eu vá conseguir você sempre aqui, mais tolice ainda parecer que também não se entristece de ir embora e me deixar aqui, escuto seu choro na madrugada e entendo o que quer quando me abraça apertado, me coloca sobre o peito e diz para eu ficar quieto, forma de tentar perpetuar este momento até a próxima volta.

Você ainda deixa seu cheiro na minha cama, nos lençóis e travesseiro, as vezes esquece algum objeto, um brinco, sua marca fica aqui comigo por dias, mas o que meu você leva? Lembranças trocadas por nós dois, os mesmos beijos, os mesmos abraços, mas nada material, nada que possa envolver com suas mãos ou sentir.

Chega a hora de ir embora, sempre torço para que o próximo ônibus demore a sair, pra ter contigo longos últimos momentos, as vezes dou sorte, mas por mais que demore a chegar, a hora chega e a dor se repete como se fosse a primeira vez, creio inclusive que piora, me confunde a vontade de ficar lá, estático, parado, esperando você tomar distancia até sair das minhas vistas e a vontade de ir logo embora, fazer passar o ferimento de morte que é aberto no meu coração, por dias me vi de mãos dadas e agora passo a ter ambas as mãos livres, desacostumadas sem as suas para segurar.

Mais uma vez seguro o choro, não pra você que já não me vê mais, mas ao para o resto do mundo. Rodoviária é um lugar de encontros e despedidas e, acredito, não sou o único que sai sem visão, com os olhos encharcados pelas lagrimas salgadas, daquele lugar. Mesmo assim, não quero chorar.

Agora é contar os dias e ver o tempo que me separa de você no calendário, quando a verei novamente para viver os melhores dias da minha vida, não importa o tempo que nos separe, um mês ou uma semana, parece mais tempo que o que Deus levou para criar o mundo, conheço os dias mais longos que os sete divinos usados.

Me resta é readaptar a realidade do corpo solitário, só o corpo, pois a mente e o espírito estão eternamente ligados a você, a carne chora sua ausência mas a cabeça e o coração sorriem felizes, por vezes gargalham, de tê-la comigo mesmo em outra cidade.

Aguardo o dia de fazer o corpo sorrir também e, mais uma vez, ser completo.