A história de Psiquê
Um rei tinha três belíssimas filhas. Muitos vinham de longe para admirá-las. Com tantos pretendentes, logo duas delas se casaram e somente Psiquê ficou solteira, mesmo sendo a mais bela entre as irmãs, além de graciosa. O motivo de ficar só e não conseguir um marido era o medo que todos tinham da beleza dela.
Os pais de Psiquê buscaram ajuda dos oráculos para casarem a sua única filha que ainda, apesar de bela, estava solteira. Receberam a seguinte instrução:
- Senhores, levem-na, para o alto de uma montanha, vestindo-a com as roupas que usaria caso fosse se casar realmente e a deixem lá, onde um terrível monstro irá buscá-la. Ah, ela jamais poderá ver o rosto do esposo se não quiser perdê-lo para sempre.
Pesarosos e tristes, porém obedientes ao oráculo, o rei e a rainha aceitaram o destino da filha e a levaram para o alto de uma montanha distante.
Naquele lugar, Psiquê foi abandonada por seus pais. Quando ficou totalmente sozinha, um forte vento soprou e a carregou pelos ares até o fundo de um vale. Psiquê, muito cansada, adormeceu. Ao acordar, se viu num castelo muito bonito e grandioso, todo feito em mármore e com detalhes em ouro.
A menina resolveu explorar tão lindo lugar. Maravilhada, percorreu por corredores e, como mágica, os portões e portas se abriam para ela como se alguém soubesse de sua presença e a atraísse castelo adentro. Ouvia vozes que lhe sussurravam tudo que deveria saber sobre aquele lugar que aparentava ser mágico e especial. Assim, a garota chegou até um quarto.
Quando baixou a noite, já deitada em seus aposentos e quase adormecida, Psiquê percebeu que alguém estava ao seu lado, mas não conseguia ver de quem se tratava, apenas sentia a presença daquele que deduziu ser seu esposo conforme o oráculo havia previsto.
Havia um porém nesta linda história: jamais ela poderia ver seu esposo, pois isso seria o mesmo que perdê-lo para sempre.A garota, lá mesmo no oráculo, já havia concordado em não ver o rosto do amado. Apenas iria amá-lo e deixar-se amar...
Assim seus dias foram passando naquele lindo castelo de mármore, feito especialmente para Psiquê viver eternamente seu grande amor. Naquele lugar, tinha o que desejava, era muito feliz, pois o seu esposo trazia-lhe a sensação de ser muito amada e era um homem extremamente carinhoso.
O tempo torna-se cruel quando com ele vem a saudade. Psiquê teve vontade de rever os pais dela e pediu permissão ao marido para visitá-los. Muito Eros, o esposo, relutou para não ceder aos caprichos da mulher, mas, infelizmente, foi derrotado pela insistência. Ele sabia das consequências daquela viagem, pois havia sido advertido pelos oráculos.
Eros levou Psiquê até a casa dos pais dela da mesma forma que a trouxe: pelos ares. A menina, recém-casada e feliz, foi recebida pela família com muita alegria e levou muitos presentes a todos. As irmãs, porém, ao vê-la tão bem, se encheram de inveja e começaram a crivá-la de perguntas a respeito do marido.
Ao saberem que até então Psiquê nunca o tinha visto, convenceram-na de fazê-lo. As intenções delas, evidentemente, eram apenas de prejudicá-la, pois sabiam que a garota havia feito a promessa ao esposo de nunca ver o rosto dele.
Ao voltar para sua casa, a curiosidade tomou conta do coração de Psiquê. Tão logo veio a noite, ela esperou que Eros adormecesse e assim acendeu uma vela para poder vê-lo.
Ao se deparar com tão linda figura, ela se perdeu em sonhos e ficou ali, embevecida, admirando-o. E esqueceu-se da vela que tinha nas mãos. Um pingo de cera caiu sobre o peito de Eros, seu marido oculto, fazendo-o acordar com a dor. Sentido com a quebra da promessa da esposa, partiu, fazendo cumprir a sentença do oráculo. Abandonada por Eros, o Amor, sentindo-se só e infeliz, Psiquê, a Alma, passou a vagar pelo mundo.
Psiquê sofreu muito e penas pagou até se deixar levar pela morte, caindo num profundo sono. Eros, que também sofria com sua ausência, pois por ela havia se apaixonado, não mais suportando ver a esposa passar por tanta dor, implorou a Zeus, o deus dos deuses, que tivesse compaixão deles. E com a permissão de Zeus, Eros tirou Psiquê do sono eterno com uma de suas flechas e uniu-se a ela, um deus e uma mortal, no Monte Olimpo. Depois deste casamento, Eros e Psiquê, ou seja, o Amor e a Alma, permaneceram juntos por toda a eternidade.