Delírios
Devíamos fazer teatro independente, eu e você, e que eu fosse o diretor, ou então podíamos fazer um curso de física e mecânica, aprender japonês e ir morar no Japão só pra criarmos uma maquina poderosa onde colocaríamos plugues nas nossas cabeças e na televisão apareceriam em imagens de alta definição o que estamos pensando, só pra eu te mostrar todas as loucuras que tenho na mente, todas elas te envolvem, só que não sei nem descrever nem como realizar.
O teatro podia ajudar, um patrocínio mais ou menos, um cenário mais ou menos e roupas mais ou menos e aí estaria eu, bancando o poeta enlouquecido pelas ruas de paralelepípedos molhadas da chuva que acabara de cair, gritando teu nome e frases de amor improvisadas enquanto caminhava de braços abertos, talvez um pouco bêbado, pulando e caminhando em muros e muretas, uma roupa branca, terno ou blazer talvez, coisa bem antiga, nascida da sensação que anos atrás os românticos eram românticos e que as moças gostavam disso.
A televisão mostraria (em alta definição de som e imagem) a cama grande de lençóis profundamente brancos coberta de pétalas de rosas profundamente vermelhas, seu nome escrito com batom no espelho e seu rosto surpreso ao entrar e ver tudo isso.
Poderíamos também nos ver nos beijando e agarrando na rua, sem pudor, só na vontade de mostrar a quem passasse e visse um amor muito bonito e quem tudo pra dar certo, você de vestido e sandália, eu de bermuda e chinelos, um momento casual voltando de algum lugar num dia de sol ameno e vento.
Você também se veria dançando, sozinha, com um vestido branco e numa noite de chuva (notou que gosto de chuva né?), linda, num espetáculo quase surreal de tão mágico que seria, quem sabe eu pudesse te acompanhar e dançar também (este, o maior dos delírios).
Mas não fazemos teatro e estamos mais próximos do Japão que da física e mecânica. Que me resta? Esperar que alguém crie a maquina do pensamento ou faça alguma peça teatral retratando a minha imagem, ai eu viveria, na experiência do outro, o meu êxtase.
Fico feliz em ter tido sucesso em descrever, ainda que porcamente, ao menos algumas dessas maluquices que passam na minha cabeça, mas existe um sem numero delas e tantas outras aparecem diariamente, coisa épica de quem gosta de amar assim. Que Deus me ajude a conquistar muito dinheiro, aí algumas delas pelo menos eu poderei realizar.
Por enquanto, deixa-as projetadas no futuro, lá tudo funciona e até os carros voam em estradas suspensas por campos anti-gravitacionais, deixa as imagens da minha cabeça (doente) todas lá, na medida do possível eu as vou puxando pra perto de nós e te mostrando devagar, por enquanto, só isso que dá pra fazer, te adiantar uma ou outra e descrevê-las em palavras pequenas.