Burrice emocional

Grande parte de nossos dissabores vertem de burrice emocional. Explico; por lidarmos mal com idiossincrasias alheias, acabamos colocando a espada na mão de quem nos quer ferir. Conheço pessoas para as quais, uma palavra dura estraga todo seu dia; lidam mal com isso, ou, sequer sabem lidar.

Estou acima disso? Não. Mas, depois de tanto errar, procuro dimensionar melhor as coisas, antes de revidar. A maioria dos casos, não vale a pena.

Salvo grosseiras ofensas pessoais, como ocorreu uma vez cá, e subi na mesa, no mais, passam batidas certas deselegâncias, grosserias, indiferenças...

Noutro espaço que também escrevo, apenas mensagens espirituais, quando comecei, certo leitor escritor comentava todos meus textos, aparentemente só ele via erros; todos que comentavam gostavam, exceto ele.

Retornei alguns de seus comentários acrescendo explicações, pois, pensei se tratar de mal entendido; aí, quanto mais explicava, mas ele redarguia, até que constatei tratar-se de um criticopata, viciado em criticar, sem meta, senão, a ginástica mental à custa alheia.

Textos bem ruinzinhos ele passa de largo, e nos meus, ele coloca sua gratuita opinião. Ele lembra os “Papagaios de pirata” pessoas que se esforçam para aparecer fotografadas ao lado de autoridades ou celebridades. Não que meus textos sejam o bicho, mas, para ele, funcionam como velas às mariposas.

Mesmo que não sejam o alvo das fotos, aos tais, aparecer de canto, lhes basta. Identificado o doente, passei a ignorá-lo; ainda critica gratuitamente quase tudo que escrevo, e não respondo. Se, para ele é importante “aparecer na foto” ao lado de meus escritos, bom proveito, mas, tenho mais a fazer, que buscar mel entre vespas.

Já analisei noutro texto, o ser, e o valor da crítica aos meus olhos, gosto dela, quando não é gratuita.

Carecemos equilíbrio para falar dos outros, de seus textos, digo, e, se possível, evitarmos falar de nós. Outro dia, dialogando com uma amiga disse-lhe que evito medir a mim mesmo, seja para baixo, seja para cima.

Quem se mede para cima, está se achando, é orgulhoso; quem se mede para baixo, dizendo nada ser, emula às pessoas para que digam o contrário, pede elogios. Tal “humildade” é orgulho disfarçado.

Prefiro o conselho bíblico; O Senhor ensinou: “Quem fala de si mesmo busca sua própria glória” e Salomão dissera: “Louve-te o estranho, não os teus próprios lábios.”

Todavia, impossível praticar isso plenamente, pois, numa redação como essa, não há como não falar de meu ponto de vista; mas, posso me ater às valorações de atos, não do ser.

Mesmo nas questões do coração, complicadas que são, e embriagantes, carecemos equilíbrio. É bonito e poético oferecer a lua e as estrelas para seduzir à amada, mas, se uma parte apenas quiser, e, à força da persuasão que for, conseguir a aquiescência da outra, não passa de um afeto natimorto, com prazo de validade.

Quando ambos desejam, quaisquer barreiras serão vencidas, e triunfará o amor, quando não, nem vale tentar.

Aliás, em nenhuma área estamos tão propensos a burrices emocionais, como nos assuntos do coração. Ouso dizer que, “Eu te amo” seja a expressão usada mais vezes com menos verdade em toda a terra, afinal, que canção faz mais sucesso na parada da sedução?

Não estou postulando que lidar com emoções seja fácil; na verdade, fácil é se enganar em seus domínios.

Usando a linguagem do futebol, a razão encontra uma barreira; amor próprio, orgulho, escrúpulos, simulação, mentira, alinham-se bem perto, para evitar que o verdadeiro sentimento acerte o gol.

Aliás, burrice emocional, é apenas a síntese de célebre frase de Blaise Pascal: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.”

Um pouquinho de sapiência emocional, pois, ajudará nos pleitos do amor, evitará empresas falidas, e ajudará viver melhor, em todos os tempos e modos, do verbo viver.

A razão pela qual algumas pessoas acham tão difícil serem felizes é porque estão sempre a julgar o passado melhor do que foi, o presente pior do que é e o futuro melhor do que será.

Marcel Pagnol