Amores da noite
Quem observava a mesa do canto ao lado da janela como um bom lugar pra se tomar uma xícara de qualquer coisa na companhia de um livro no intuito de se ver livre de qualquer discussão fútil, era a mesma pessoa que vinha a sentir falta de discuti-lo com aquele rosto familiar sentados numa cadeira desconfortável.
Dobrando a esquina fugia de qualquer rosto conhecido da baixo do sol, e sob a lua em sua sacada esperava por horas algum sorriso que só por sorrir junto já a conhecesse. Não fazia por mal, mas também não tinha medo de ser mal entendida. Afinal, nem ao menos se auto-entendia pra exigir qualquer entendimento de outros. Mas mesmo assim, que a entendessem era requisito principal pra apagarem as luzes. E olha que ser mau compreendida por si mesma ou por qualquer alma estranha que cruzasse não era o problema. É que pessoas como ela não precisam de amores pra ser vistos por outros olhos. Não precisam de amores pra sair de mãos dadas ou ser formalizado em eventos pra toda família. Não precisava de alguém pra dividir as dificuldades, apenas pra abraça-la e encorajar a enfrentá-las com um abraço inesperado vindo de lugar algum. Não precisava de alguém que acordasse com ela, apenas de alguém que com quem fosse dormir. Não apenas do modo bruto de se dormir com alguém, mas dos abraços e beijos sem palavras que deixavam tudo muito mais claro que qualquer "boa noite" ou "eu te amo". Não precisava de juras de amor. Só de cumpri-las sem nem antes promete-las. Simplesmente não precisava de amores de dia, de amores pra acompanha-la numa reunião importante. Precisava de amores de noite, do tipo que estão lá na beira da cama com um abraço depois das reuniões importantes. Do tipo que conseguem fazer-se mais importante que qualquer papel, qualquer formalidade, apenas com um beijo.