A escola, a educação, a sociedade e a violência...

Houve uma época, onde os pais e a sociedade brasileira se sentiam seguros em deixar os seus filhos nas escolas, enquanto iam trabalhar tranquilamente, sob os cuidados de professores e funcionários em geral. Pois sabiam que, seus filhos além de adquirirem o conhecimento pedagógico, estariam recebendo em sala de aula norteamento à educação principiada em casa.

Nesta época, a escola era vista além de um local seguro, como um espaço de construção de saberes e formadora de bons profissionais. E os professores/educadores além de detentores do saber tinham o respeito por parte dos alunos, como pessoas de grande importância dentro da sala de aula, que espelhavam-se nos mesmos como estilos de exemplos a serem seguidos, recebiam tratamento como pessoas merecedoras de todo o respeito, os professores/educadores sentiam enorme prazer em desenvolver suas aulas. Tinham autoridade e segurança para repreender a qualquer aluno, quando esse se comportava inadequadamente na escola ou na sala de aula com relação aos colegas ou funcionários, fato que, esporadicamente acontecia.

Não imaginávamos nem de longe um dia ver cenas ou notícias de um professor sendo xingado, afrontado, ameaçado, agredido e até mesmo assassinado por um aluno.

Infelizmente, vivemos atualmente uma realidade bastante diferente e assustadora, constatamos que, houve uma enorme inversão de valores dentro da sociedade brasileira de maneira geral e essa mudança passou a afetar as escolas, as famílias, a sociedade e a educação. Hoje diferentemente dos gloriosos dias do passado a figura do professor/educador, já não é tão respeitada assim dentro da sala de aula e dentro da própria escola, embora seja merecedora de um tratamento pelo menos digno. Os pais que antes viam na escola um porto seguro onde aportavam seus filhos, enquanto se deslocavam para seus empregos e afazeres diários, já não tem mais a mesma tranquilidade de antes, as famílias desestruturadas e filhos abandonados são ingredientes negativos, que contribuem para a má formação do caráter de muitos jovens, que por consequência acabam se enveredando pelos caminhos das ilicitudes. Em muitos casos existem alunos que se identificam mais com seus professores, do que com seus próprios pais, por serem estes que as vezes fazem o papel inerente a eles . A velocidade com que a vida e a rotina de trabalho de muitos pais se desenvolvem, chega a ponto, de mesmo residindo no mesmo lar, pais e filhos não conseguirem manter, nem se quer um mínimo de diálogo. E com as mulheres cada vez mais deixando os lares para enfrentarem o mercado de trabalho, ou seja, para comporem a renda familiar com seus esposos, ou seja, para a subsistência própria de sua família, já que em muitos casos ela é quem está assumido esta família.

Com isso os homens já não têm mais aquela pessoa que gerenciava a casa, a quem ele confiava os cuidados de seus filhos na sua ausência quando estavam trabalhando, com isso motivando a perda de referência familiar por parte desses jovens, já que a família é a base e o sustentáculo de tudo na vida.

Os profissionais da educação vivem uma desmotivação diante dos auspícios da profissão, vivem a se questionar se vale a pena ter empenho na preparação das aulas que serão ministradas aos seus alunos, já não se sentem tão seguros em opinar com relação aos problemas surgidos nas escolas referentes às indisciplinas, falta de comprometimento dos alunos com as aulas, desvalorização do profissional e a violência.

Até mesmo na hora de fazer uma avaliação do aprendizado de determinado aluno o educador se sente ameaçado, pressionado e coagido.

Essa violência desenfreada que ocorre na maioria das cidades brasileiras, já transpôs os muros de nossas escolas, desviando grande parte dos jovens de seus interesses pedagógicos, influenciando no comportamento desses jovens com relação a uma perspectiva e qualidade de vida melhor.

E a grande enfermidade a ser tratada é a droga, que está associada em 90% dos homicídios ocorridos no Brasil. Estatísticas mostram que entre os óbitos violentos de que são acometidos os homens, uma enorme maioria situa-se entre uma faixa etária dos 12 aos 17 anos de idade.

Tornando-se um caso de saúde pública e de segurança nacional, constituindo-se em um enorme desafio a ser enfrentado com seriedade e vontade política por nossos governantes.

Precisamos fomentar políticas sérias de enfrentamento ao desemprego, a desigualdade na distribuição de renda, a desigualdade social, a injustiça social, para criação de leis e punições mais severas aos crimes diversos, reavaliação do ECA e mudança imediata e profunda do código penal brasileiro.

O retorno dos cursos técnicos profissionalizantes nas escolas públicas de todo o país, melhoramento da oferta de educação de qualidade, criação de faculdades públicas e gratuitas, oferta de atividades esportivas para os jovens principalmente os de comunidades carentes, criação de áreas de lazer públicas e dignas nas comunidades, valorização e capacitação dos educadores e de todos os envolvidos neste processo de ensino aprendizagem no Brasil.

Não podemos e nem devemos perder a capacidade de nos indignarmos diante dos problemas causados pela violência dentro de nossa sociedade.

Carlos Souza