Vagalume e morcego
Sempre que conhecemos alguém formamos a seu respeito alguma ideia advinda de impressões circunstanciais, valores; quanto melhor for essa imagem plasmada em nossas almas, maiores as expectativas nascidas da nova relação.
O primeiro referencial moral que temos são nossos próprios princípios, de modo que, esses balizam nossas reflexões. Assim, quanto maior a sanidade de nosso caráter, maior o nível de ingenuidade, e a possibilidade de decepções, dada a “matéria prima” do homo sapiens.
Ao projetarmos nossos bens sobre o desconhecido estamos sendo coerentes, afinal, se valiosos para nós, por que não esperar que o sejam para outros? Mas, quem disse que a vida é coerente?
O pesado disso tudo é que, os mais hígidos moralmente são os mais suscetíveis psicologicamente. Noutras palavras: Os de melhor caráter sofrem mais. Por que isso se dá? Porque quem está habituado ao lixo não ressente-se da falta de limpeza.
Se chamarmos a um canalha de canalha, ele rirá; afinal, não pode brotar uma sadia indignação que verte em casos de injustiça, uma vez que, nenhuma se verifica.
É amargo o gosto de constatar tardiamente que aquele (a) de quem gostávamos presumindo integridade é de fato alguém mau. Tontos ao sorvermos a enésima taça de decepção começamos a pensar em “parar de beber”; digo, começamos a duvidar da existência da virtude, tal a pujança das águas do vício.
Mas, vale muito a existência de ilhas, que o digam os náufragos que foram salvos por elas. Nesse mundo de heróis de plástico que nascem com certo talento e vivem sem nenhum caráter, o culto da mediocridade perverte almas, e a carência de referenciais morais apressa a putrefação da humanidade.
Quando encontramos alguém que vale a pena, pois, soa como uma ilha ao náufrago, afinal, nossos valores são nossas vidas, e posta a fúria desse oceano corrupto, não queremos afundar.
Certo é que nossas cicatrizes nos tornam refratários a novas relações, ou mesmo à manutenção das avariadas, o proverbial gato escaldado.
Mas, se os vaga-lumes optarem pelo habitat dos morcegos, as cavernas não ficarão mais belas, de noite ninguém vai lá; e os campos perderão parte de sua magia...
Dedicado a querida Ana Bailune