Lobotomia mútua
Num retrato-falado o Brasil está fichado, exposto em diagnóstico, para todos que queiram enxergar. O quadro em que o paciente se encontra é preocupante e crônico de uma verdadeira epidemia de crise de identidade. O atestado apresenta graves sintomas de uma doença hereditária, com possíveis tratamentos se desmascarada no início e analisada com seriedade. Os especialistas sentenciam o estado de baixa imunidade e rompimento das principais artérias que ligam cada músculo do corpo ao coração do país. A febre nas favelas e no Senado passam de 37 graus centígrados, em situação de incrível insalubridade. Subestimam-se as causas do desencadeamento desse imenso desafeto com a nação, bem como as suas consequências virais que se manifestam de tempo em tempo. O parasita incubado no organismo nacional tenta borrar a visão, mas os exames vingam. A realidade que muitos preferem poupar e omitir dos filhos da nação é que nenhum tratamento, até os dias atuais, foi realizado com verdadeira eficiência, sempre havendo rupturas e instabilidade estrutural. A ferida está aberta e a perda é de muito sangue. Sangue derramado por rostos inocentes, fadiga e palpitação crescentes. Quem devia se preocupar em intervir nessa constante desigualdade, censuras implícitas, desvio de dinheiro público, violência, demonstrações exageradas e ditatoriais de poder e injustiça, são aqueles que cegam a população com transtornos psicológicos de que estamos em progresso. Os maiores prejudicados logo nascem, a cada geração, e neles são injetados os ideais de um sistema egoísta e antiético, repleto de cirurgiões usurpadores que secam todas as fontes de avanço. Mas esse Brasil deficiente, atrofiado e com taquicardia tem potencial para superar cada comprometimento clínico; desde que os médicos desta imensa fila de espera nos hospitais dos direitos humanos se mobilizam e procurem um antídoto para a desintegração nacional e a falta de interesse, bem como uma alternativa para suprir as necessidades fisiológicas e saúde - física e mental- da população. Não há, afinal, por que autorizar a eutanásia quando nem ainda chegou-se ao estágio terminal.