"Namora comigo um pouco"
“Vem aqui, senta do meu lado, vem me namorar um pouquinho...” dizia a mensagem que enviei a ela numa tarde fria dessas.
Jeito estranho de namorar quem mora longe, um pé na fantasia achando ser possível ela simplesmente vir e se sentar ao meu lado pra trocar uns beijos, morando a centenas de quilômetros de distancia, separados por uma passagem de ônibus que não é barata.
Mas será que da pra sobreviver sem viajar na loucura e aceitar a frieza da estrada que nos separa? Não se namora por mensagem, não se beija por telefone... Parece-me uma postura bastante triste.
A gente namora por mensagem, palavras bonitas trocadas rapidamente em pequenas mensagens que, graças a nossas reticências, dizem muito mais do que é permitido pelo limite de caracteres, só a gente sabe a diferença entre um “te amo” e um “te amo...”, acordar de manhã cedo e encontrar lá uma ou mais mensagens de amor enviadas de madrugada, acordar de madrugada pelo barulho do celular recebendo suas SMS dizendo que teve um sonho ruim...
A gente namora por telefone, a voz doce me chamando pra dormir no fim do dia, perguntando se me acordou, ouvir a respiração no telefone e até o silencio depois de uma frase, o riso baixinho respeitando o silencio da noite, é como uma conversa ao pé do ouvido, sentir o coração acelerado, as pernas inquietas roçando na cama procurando alguém que não está lá enquanto ouço sua voz.
A gente namora quando estamos juntos, aí não há muito o que falar, alias, nós não falamos, tanta coisa a ser dita de tantas formas diferentes, porque perder tempo usando a boca para falar? Deixamos as pernas e as mãos falarem, os olhos, os lábios e as línguas conversarem, tudo sem som, o silencio partido apenas pelos suspiros...
Espero que chegue o dia que não precisemos mais namorar por mensagens, dia em que estejamos um perto do outro tempo suficiente para nossos corpos conversarem tudo que tiverem de conversar e ainda repassar certos assuntos, dia de namorar sem a fantasia de beijar a distancia. Mas enquanto isso não acontece...
“Senta aqui comigo, me dá um beijo...”