CAIXA DE SAPATOS

Era uma quarta feira, estávamos reunidos num bar perto do nosso trabalho, conversávamos alegremente quando ele passou apressado e ofegante, roubamos uns segundos da sua pressa.

- Chega aí, não quer tomar um copinho e trocar uma idéia com a rapaziada, disse um de nossos companheiros.

- Não posso, tenho que ir pra casa, tenho projetos e neles não estão incluído cerveja e bagunças, disse o esbaforido colega que não quis participar da nossa “reunião”

Quinta feira era sagrado depois do expediente uma partida de futebol entre os setores da empresa, era bastante divertido jogar, rir dos pernas de paus e ainda ter a torcida das mulheres com seus gritos de vai, vai, vai..., sem contar que no final do jogo tinha aquela cervejinha para repor as energias dos pseudo-s atletas.

Mais uma vez ousamos em convidá-lo para nossa brincadeira mesmo sendo ele bastante atípico de nossas amizades e eis a resposta que ouvimos.

- Não sei como pode vocês perder tanto tempo com jogos que não levam a nada, algazarras, sem contar que numa atitude desleal deste jogo, alguém pode se machucar e vir a ficar impossibilitado de trabalhar, e ainda tem o dinheiro que isso custa, não tenho tempo pra essas coisas.

Sinceramente, era difícil entender o que se passava na mente daquele rapaz, sem contar que ele nunca nos disse qual era o projeto que lhe impedia de ter uma confraternização com os amigos de trabalhos, todos nós tínhamos nossos projetos, uns iam casar, outros comprar casa, outros queriam carros, cada um tinha um sonho a ser realizado e nem por isso deixávamos de viver momentos de alegria e até sociáveis depois do cumprimento do dever.

E assim se passou a Quinta e o jogo e logo veio a Sexta Feira, o dia mais aguardado da semana para quem trabalha, o dia que antecede o final de semana, confesso que a Sexta é um dia cansativo de trabalho, pois têm os fechamentos da semana, tudo que ficou atrasado se acerta na Sexta, mas... Que se dane! Temos dois dias de descanso depois de tudo isso.

Havia uma balada combinada com umas meninas que conhecemos na Sexta feira passada, éramos três, todos livres de alianças e juramentos matrimoniais, logo, o único problema que tinha é que elas eram quatro e o único solteiro que restava no trabalho era o homem compromissado com o projeto misterioso dele, e mais uma vez, o convidamos para uma saidinha.

- Não quero, não tenho interesse em namorar agora, tenho só 23 anos e a vida toda pela frente, meu projeto não permite relacionamentos amorosos, sem contar o dinheiro que isso gasta, disse o rapaz incompreendido por nós.

- Você não bebe, não fuma, não pratica esporte nenhum, não tem uma namorada e não quer arrumar uma... Isso não é vida social, você se auto enclausura, podemos saber que projeto é esse que ti priva da diversão? Perguntou um dos solteiros do nosso grupo.

- Eu junto um dinheiro dentro de uma caixa de sapatos que tenho lá em casa, quero ajudar a minha mãe, mas ela não sabe deste dinheiro, só contei pra vocês, um dia ela vai precisar e aí estarei pronto para recompensá-la por tudo que ela foi pra mim.

Disse estas palavras e foi embora pra casa, como sempre, apressado e esbaforido e nós fomos para o nosso encontro, nos questionando sobre o que tínhamos acabado de ouvir.

E assim se passou a Sexta e o final de semana e logo veio a Segunda feira com sua cara de desânimo e a nossa volta ao trabalho, claro que não poderia faltar os comentários do final de semana, o que se fez..., o que se passou..., o burburinho foi interrompido com uma noticia mais amarga que a Segunda feira, o falecimento do jovem que tinha um projeto de ajudar a sua mãe.

- Só sabemos que foi um enfarto fulminante enquanto ele dormia, disse o supervisor do nosso setor.

Sentimos um vazio tão intenso, não tinha dor, não tinha remorsos, era uma sensação estranha saber que um homem tinha um projeto de ajudar a mãe e por isso deixou de viver, só trabalhou e acabou encontrando o fim da vida.

No final do expediente, fomos à casa do finado e lá encontramos uma senhora que se identificou como mãe dele, desolada, olhar perdido e repetindo as mesmas palavras:

- O que eu vou fazer..., que vou fazer?

Procuramos acalmá-la e então ela pode dizer o que a perturbava além do falecimento do filho, disse-nos que o corpo estava no necrotério e que não tinha dinheiro para fazer o enterro, pois era sozinha e só vivia graças à ajuda do filho que agora não tinha mais.

Outra vez aquele vazio da noticia do falecimento tomou conta de nós, seus amigos de trabalho que estávamos ali a fim de saber alguma coisa a respeito da causa da morte e do enterro, por fim, resolvemos um mistério.

Ele nos contou que guardava o dinheiro numa caixa de sapatos e que estava guardado dentro de casa.

P S ASSIS

Pietro Assis
Enviado por Pietro Assis em 30/04/2012
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