Coletividade, Virtuosidade e Posterioridade

Qualquer que seja a observação, sintética ou analítica, do atual paradigma da sociedade, evidencia-se, substancialmente, um déficit do altruísmo. Vive-se o período do apogeu de um sistema egoísta e nefasto que põe em risco o desenvolvimento do futuro da humanidade.

A crise das virtudes teve sua consolidação a partir do século XVIII na revolução industrial. A injustiça fazia o moinho da riqueza se mover literalmente a vapor. Criou-se uma sociedade tão caótica que muitos estudiosos debruçaram-se em teorias e métodos para sanar a crise. Essas teorias tinham como base a pratica das relações coletivas e visavam um bem-estar igualmente comunal. A luta pelo jus naturalismo, conceito que dava a todos direitos indubitáveis, resultou em grandes conquistas da democracia.

Com o resfriamento do caráter revolucionário dos povos, um fascismo alienador se instalou, mascarando o persistente egocentrismo que é impregnado no pensamento do homem. A paz social voltou a ser normalmente violada e a injustiça foi considerada uma característica natural do mundo. A divina trindade do capitalismo, “querer, ter e consumir”, tornou-se a viseira da população e assim o egoísmo mundial teve seu esplendor.

O consumismo atual desgasta despreocupadamente os recursos naturais e torna a missão de reverter todo esse processo muito mais difícil para as gerações futuras. O pensamento em longo prazo é um discurso antigo que pouco interessa a grande parte da população. As relações afetivas estão perdendo sua essência, a honestidade e a bondade estão se tornando pieguice sem sentido. O caos impera sem que a maioria faça nada. Males, como a mortandade nos países pobres e a corrupção dos representantes políticos, atingem direta ou indiretamente a todos.

Rousseau explica: "a maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos, conservando uma forma de viver simples, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza". Logo, precisa-se retomar a essência dos relacionamentos. Precisa-se agir virtuosamente, para que os benefícios atinjam a coletividade e posterioridade. É como o agir de Roberto Burle Marx. O paisagista cultivou uma planta que só floresceria meio século depois. Ele não veria a verdadeira beleza da arvore Palma talipot ao florir, mas a próxima geração seria agraciada pelo espetáculo. Tais ações devem ser estimuladas desde os primórdios de uma educação de qualidade. Ações altruístas que serão eternamente lembradas por várias gerações.