Reminiscências

Antigamente os relacionamentos eram duráveis praticamente por toda a vida, mas hoje em dia é comum as pessoas vivenciarem uma espécie de “se não deu certo, separa”. Nessa oportunidade cultural que o tempo proporcionou de novas tentativas rumo à felicidade, há situações inerentes à opção contemporânea de relacionar-se amorosamente, como a de lidar com o que restou do relacionamento anterior, as marcas físicas, interpessoais e psicológicas que podem até ser ignoradas, mas existem e a qualquer momento despontam sem pedir licença.

Como marcas físicas estão fotos, vídeos, roupas, objetos, cartões, arquivos de bate-papo. As interpessoais estão ligadas ao convívio de amigos e familiares de ambas as partes. E as psicológicas são as mais sutis marcas existentes, pois se referem aos sentimentos, às lembranças e podemos até sugerir que essa marca seja subjacente aos outros dois tipos. Ressalva aos filhos, muitas vezes ignorados a tal ponto que figuram mais como quesito físico do que interpessoal.

Lidar com o que restou dos próprios relacionamentos varia de acordo com cada um. Pode-se escolher conservar as coisas ou desfazer-se delas. Podem-se manter as amizades construídas no decorrer da relação ou se afastar. Pode-se guardar o que se sente para si ou conversar sobre o assunto.

Mas e quando se trata do que restou do companheiro (a) atual? A resposta mais adequada talvez seja respeitar o espaço e o tempo dele (a), acreditando que aos poucos vai se conquistando, devido à convivência, um território cada vez maior no coração e na vida do amado (a). Pra isso é preciso paciência, amor e um pouco de otimismo.

Há algumas décadas praticamente não se verificava a superação das marcas reminiscentes tanto de si quanto do companheiro (a), o desafio consistia em vencer o desconforto alheio, adaptar-se a ele ou, na pior das hipóteses, aceitá-lo passivamente, mas tudo em um único relacionamento.

Considero positiva a mudança de comportamento quanto à liberdade de se poder escolher quando uma convivência amorosa já saturou e partir pra outra. A única objeção é quanto às pessoas acostumarem-se a abandonar o barco na primeira turbulência marítima e se esquecerem de que é inconcebível um mar sem ondas, colecionando assim tentativas desnecessárias de relacionamento.

Georgia Queiroz
Enviado por Georgia Queiroz em 22/03/2012
Reeditado em 23/03/2012
Código do texto: T3569074
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