A educação ontem e hoje - parte 2
Todos nós como falamos em um dos escritos deste Recanto das Letras precisamos nos reeducar para educarmos nossos filhos. Não entrarmos nesta mão de obra sozinhos, mas buscar ajuda profissional principalmente naqueles casos mais rebeldes.
Educar é uma função de papai e mamãe, e também da comunidade em que vive, os tios, avós, os familiares, os vizinho, sempre aceitando ajuda ou refletindo sobre o que falam sobre nossos filhos, conscientizando-se que devem da melhor forma possível, criar meios para o desenvolvimento de seu caráter e incutir seus valores éticos de acordo com sua crença. Ensinar as crianças a ser, uma pessoa solidaria, como disse adiante se respeitando e respeitando os seus semelhantes, mostrar em seus lares a importância de viver em harmonia partindo do seu próprio exemplo, os pais devem ser exemplo para os filhos, tratando-os com respeito para serem respeitados da mesma forma. O respeito deve ser mutuo entre pais e filhos, professor e aluno.
Trabalhei como professora durante muitos anos, na época de 1960 até mais ou menos o ano de1980, poderíamos dizer que foi na era da repressão da ditadura, onde nenhum de nós podia dizer uma palavra sequer, do nosso pensar, das nossas crenças. O verbo era calar. A repressão não estava apenas na sociedade, mas também nos lares. A violência estava em todos os arredores, naquela época os pais espancavam os filhos usando cipós e cintos, as esposas eram espancadas sem direitos a reclamar.
Sabemos que na época estes pais desejavam o melhor para seus filhos, não queriam que eles conhecessem a marginalidade nem as drogas, mas sonhavam eles se formarem e seguirem uma profissão honrada. A escola por sua vez, repreendiam os alunos que estavam fora da linha, chamavam os pais quando o assunto ia alem da conta. O castigo nas escolas publica era escrever inúmeras vezes “deve respeitar o professor” ou “respeitar o colega” “devo fazer o dever” de acordo com o fato. No ultimo caso, como nas violências corporais eram encaminhados para a diretoria.
Na escola era obrigação nossa e até hoje creio que foi valido, todos os alunos enfileirados no pátio da escola esperando hastear a bandeira nacional e cantar juntamente com os professores o hino nacional ou o hino da Bandeira, depois as professoras seguravam a mão do seu primeiro aluno a depender da idade e os levava para sala, onde deveriam sentar-se fazendo o maximo de esforço para não arrastar a cadeira. Isto era uma atividade diária, não podíamos dizer que era fácil manter 40 alunos ou mais enfileirados em ordem de tamanho. As professoras eram obrigadas a estar atentas aos seus alunos na fila, nunca deixou de existir os gaiatos, os brigões, como também as rivalidades entre classes e escolas. Tudo isto existia, e o bullyng hoje chamado, era natural.
A professora ia para o seu lugar e eles se levantavam silenciosamente a depender da idade davam bom dia ao professor. Nas series iniciais cantávamos com os alunos uma saudação em respeito a quem entrava na sala.
Entrando em nossa sala,
Cantamos com alegria
Saudando a professora,
Bom dia, bom dia.
Vamos dizer que entrasse na sala um pai ou mãe de aluno, se levantavam calmamente e cantavam neste caso a saudação em vez de professora era substituída a palavra para o visitante, diretor ou outros.
Não podemos dizer que para chegarmos a este resultado viesse a ser o trabalho de um dia, mas de semanas e mais semanas sempre repetitivo, todas as pessoas que entravam na sala eram saudadas, não importava quem, era um trabalho educativo de respeito às autoridades e seus semelhantes.
Geralmente no meu caso todos os dias antes de iniciar a aula, mandava que eles respirassem e expirassem isto três vezes, valendo para todas as series, ensinei do infantil na época até a 5ª serie cujas classes eram formadas por adolescentes a partir de 12 anos a 17 anos. Nunca deixei de orar junto com meus alunos o Pai Nosso, e a oração Santo Anjo do Senhor. Depois deste ritual fazia a chamada no inicio enquanto não sabia os nomes e não os conhecia, depois passava a trabalhar com eles a aula propriamente dita que era iniciada com a correção do dever de casa, que não era nada mais do que revisão de assuntos dados anteriormente, na maioria das vezes de series anteriores.
As mesmas coisas que acontece hoje nas salas de aula, existiam também nesta época, alunos que não sabiam ler nem escrever, quanto mais interpretar, chegavam ao ultimo ano sem condições de acompanhar a classe, sendo assim fazia trabalho de reciclagem no finalzinho da aula para tentar resgatar aquele grupinho que se encontravam defasado. Era um trabalho imenso, mas me sentia muito feliz em fazer. Estes alunos sempre chegavam ao final do ano 50 a 60% recuperados. Nunca tive arrependimento do que fazia.
Imagina na classe da 5ª serie passando exercícios de letras maiúsculas e minúsculas, consoantes e vogais, soletração, separar silaba, contar letras, contar silabas, formar palavras etc. como se estivessem fazendo alfabetização, dizia para eles, é apenas para relembrar porque vocês estão esquecidos. Não sabiam somar nem subtrair, quanto mais multiplicação e divisão. Um determinado tempo passei a exigir acompanhar os meus alunos até a ultima serie, foi uma ótima experiência, estas crianças que se tornaram adolescentes na sua maioria não tiveram dificuldades de aprendizagem, nem no meu caso de indisciplina. Respeitavam-me e aos mais velhos, havendo um bom relacionamento pais, professor e aluno, consequentemente com o corpo administrativo e de apoio.
Tínhamos liberdade na sala de aula, gostava do método da casinha feliz nas classes iniciais, partia do método dedutivo para o indutivo, porem em alguns casos usava a indução, trabalhava com os alunos das classes mais adiantadas me expirando um pouco em Paulo Freire. Na realidade meu método era eclético, porque me baseava que era necessário se usar de varias línguas para que os alunos nos entendessem, ou seja, apresentar o material a ser estudado de varias formas.
Geralmente antes de explicar o assunto mandava os alunos estudarem em casa e pesquisarem no dicionário as palavras que não entenderam, e se não tivessem o livro, podiam fazer a leitura do assunto em outro livro e trazê-lo para a sala de aula (isto para ciências sociais e ciências exatas) as aulas de português, gramática ou ortografia, eram dadas pelo livro da lição do dia, podia ser assunto de historia da Bahia, matemática, ou outros. Quando os alunos chegavam à sala de aula já sabiam mais ou menos o assunto, fazíamos a leitura dos que tinham o livro, e discutíamos o vocabulário, lembrando que primeiro era a leitura silenciosa, depois a leitura coletiva, e por ultimo a leitura dos parágrafos pelo aluno e explicar o que entenderam e o que não entenderam. Os alunos que sempre eram poucos que levavam livros diferentes liam o que entenderam e eu complementava explicando caso houvesse algo diferente do livro da classe. Não os abandonava.
Caso alguns não entendessem, simultaneamente a reexplicação da professora, podia ser repetidas de três vezes a mais até o entendimento não só do aluno como do restante da turma.
Os materiais da sala de aula eram feitos por mim, como quadro valor do lugar que utilizava para as aulas de matemática e português, tinha uma flanela que dependurava em uma parte da parede na qual utilizava gravuras com lixa colada no verso, de acordo com os assuntos dados as fixava neste quadro (flanelografo).
Usava também a linha do tempo, a depender da serie e o tipo de aula, era uma corda presa em um determinado ponto da parede de um lado a outro, nas aulas. Uma técnica muito boa para aulas de historia. Outra técnica que usava muito era da viagem, usava revistas, gravuras diversas trazidas pelos alunos, das cidades, recortes de jornais etc. nas aulas de geografia, assim passeávamos pelos rios, cidades, ruas que eles moravam, visitávamos o comercio das ruas, desenhávamos em papel metro o que eles encontravam no caminho, os transportes que tomavam, assim por diante, não era esquecido o nome dos pais, tipo de trabalho e a necessidade deles estudarem para ajudar aos pais.
Acompanhado a esse programa fazia jogos que utilizava (bola), meu pai foi à feira, (substituía por loja, mercado etc.), jogos de atenção como cipozinho queimado, adivinhação, vivo morto, La vai a bola girar na roda, escravos de Jó, bandeirinha, bola ao alvo e muitos outros. Contava estórias de acordo com o tipo de classe e serie.
Nos dia de sexta feira fazia a culminância do assunto dado na semana, neste dia fazia todo o ritual, corrigia o dever, e os alunos se arrumavam em grupos (a partir da 3ª serie) para fazer apresentação. Eram uns pequenos teatrinhos escritos e arrumados por eles. Era divertido os ver imitarem a professora dando aula. Era bom que terminávamos corrigindo certos hábitos.
Alguém pode dizer que isto era naquela época, que você podia fazer isto, hoje não podemos fazer nada, porque eles são mal educados etc. e tal, nós também dizíamos o mesmo. Tem filhos de marginal e prostituta, também tínhamos, qual seria a diferença daquela época para a atual? Naquela época o meio de divulgação era podado, nem tudo era publicado, enfim era proibido falar. Hoje se um mendigo morre nas ruas o mundo inteiro sabe, e todos nós podemos falar o que quiser apesar do risco de sofrer as consequências se não for verdadeiro.
Enfim, hoje tudo se sabe, não existe segredo de estado certo, as revistas, jornais, televisão, informática com internet, uma infinidade de meios de comunicação cada um contando um fato a sua maneira, nada fica escondido.
Em nossas salas de aula hoje temos estes alunos equipados, muitos deles com computador em casa ou nas Lans House, todos na sua maioria bem informados, sabendo às vezes muito mais que seus professores a manusear um computador, os interesses deles bem verdade vai muito alem daqueles meus alunos que desejavam estudar para trabalhar e se possível se formar para ganhar seu dinheiro, mas tínhamos também àqueles que iam para sala de aula para aborrecer. Sendo que alguns destes após muitas chamadas dos pais e observação da professora recebiam auxilio da Orientadora Educacional, da Supervisora e da Diretora e passávamos a ter um conhecimento maior da realidade do aluno e estes sempre eram encaminhados pela Orientadora para um profissional adequado.
Naquela época, bom ou mal tínhamos ajuda destes profissionais principalmente o Orientador que recebeu em seu currículo uma boa bagagem de psicologia da criança, do adolescente e do adulto, uma vez que eles conviviam com estes dois tipos de gerações, e muitas vezes também com idosos, pois como os pais trabalhavam quem tomava conta dos netos eram eles. Isto acontece ainda hoje.
A indisciplina na sala de aula quase sempre é gerada por alunos cujos pais brigam, sem respeitar sua presença, muitos lutam, e até apanham quando vai à defesa da mãe, isto em sua maioria, ou se o pai é um marginal coloca o filho na escola, mas não o orienta como proceder, pois ele não teve ou não aceitou as regras da escola, então pode apenas ensina-lo a violência em que ele e a criança vivem. Nós sempre oferecemos a nossos filhos a educação que recebemos de nossos pais, porem quando tentamos mudar aquilo que acreditamos que nossos pais erraram certamente cometemos um erro maior que o deles, porque na verdade sabemos o que nós queremos, mas na hora de aplicar, sempre corremos o risco de errar em nossas ações, que foi o caso da tal liberdade sem medo dos anos 60 a 80, que tirava a liberdade dos pais e dos professores na sala de aula. As sansões foram retiradas dos lares e das escolas, porem não foi dada aos professores e aos pais, principalmente os atuais, coordenadas para que eles aprendessem a lidar com tais alunos e filhos. Tiraram os supervisores e orientadores, dizem que os substituíram pelos coordenadores pedagógicos, e o que fazem eles afinal?
As professoras estão se escabelando, principalmente os novos que tiveram um curso de pedagogia onde deixou muitos buracos negros sem saída, e sem saber onde podem chegar. Os diretores de escolas muito mal preparados, com muito medo do que há de vir, pois muitas escolas estão próximas de áreas onde se concentram o trafico e a marginalidade. Vive um mundo de terror. As professoras são proibidas de chamar a atenção dos alunos pelas diretoras, a coordenadora quase não aparece na escola, tem medo. Até onde pode chegar tal situação?
Deu para ver que aquelas escolas de 1960 a mais ou menos os anos 90, tinham de alguma forma um suporte, os orientadores educacionais e os supervisores que orientavam de maneira conjunta os professores no planejamento da sala de aula, adequando a cada tipo de classe, discutindo respeitando as ideias do professor até nas resoluções de problemas, professor x aluno x pais x direção e pessoal de apoio evitando muitas vezes os disse- me – disse que sempre acontece nos locais de trabalho desestruturando por completo o ambiente.
Li alguma coisa numa revista sobre educação, não deu para ver direito o nome nem a data da revista, dei apenas uma olhada na capa, falando que as Secretarias de Educação deveriam aproveitar aqueles professores experientes que não desejavam se aposentar para orientar os professores novos que estavam iniciando na sala de aula. A ideia é ótima, porque as faculdades que preparam os professores dispensaram muitas disciplinas praticas dos seus alunos, principalmente aquelas do preparo dos materiais didáticos os quais muito auxiliam o professor. E os professores que tiveram o curso pedagógico do 2º grau, dá-nos o parecer que de certa forma foram muito bem preparados, pois lhes foram ensinado como lhe dá com certos alunos, confeccionar cartazes, arrumar sala, preparar o aluno, e muitas coisas que hoje observo que as faculdades deixaram para os seus alunos adivinharem.
Sempre estava me aperfeiçoando, tenho uma pasta cheia de certificados resultados de cursos, encontros e congressos, tanto de Professor como de Orientador, e trazia sempre uma novidade para a sala de aula. O método construtivista era usado sempre de acordo com o assunto ou a disciplina, comprava muitos livros, revistas e livros de jogos, na época discos de estória, hoje são os CDs e DVDs.
Em nossa época os alunos competiam com o professor testando-o de todas as formas, esperando que este fosse uma enciclopédia ambulante respondendo a tudo que eles perguntassem, e eu tinha uma estratégia que acreditava muito boa, dizia para eles,vamos procurar tal palavra no dicionário, se fosse um assunto que eu sabia ou não, mandava toda turma pesquisar em outros livros e trazer no outro dia, eu também pesquisava neste dia a aula seria a resposta ao colega, onde todos participavam. Tínhamos um dicionário de palavrões para o caso de tais palavras surgissem na sala de aula, a palavra era escrita no quadro, e discutíamos o significado real e tirávamos a ideia de xingamentos, tais palavras serviam de desavenças e pancadarias, muitas vezes de se unirem em grupos para bater em um.
A indisciplina sempre foi uma preocupação das escolas publicas, ontem, hoje e sempre.
O que fazer? Procurar os pais? Ou fazer um projeto de integração escola, pais, professor, aluno, pessoal de apoio, diretor, vice e coordenador pedagógico? Houvesse pelo menos uma reunião de 15 em 15 dias com os pais dos alunos com problemas e alunos com dificuldade de aprendizagem.
Há um fato muito importante, em nossa época o professor era respeitado como profissional, por todo o corpo da escola, docente administrativo e discente ele era chamado de “PROFESSOR”. Hoje chamam o professor de trabalhador da educação contribuindo para a sua desvalorização como profissional, mesmo que ele tenha pós-graduações. Os Departamentos de Educação sempre está dizendo que o professor necessita disso ou daquilo, mas nunca dão para eles o que precisam bons salários, bons livros que os auxiliem nas dificuldades diversas, relato de experiências de professores antigos e atuais, palestras, tudo isto ajuda muito, alem dos cursos de reciclagem, não porque os professores não saibam, mas que nestes cursos sejam levadas também novidades que sirvam para ampliar suas expectativas alem de técnicas mais recentes.
È importante que a coordenação pedagógica atue na escola com muito afinco, não como um capataz mais como alguém que deseja o melhor para o professor, para os alunos e enfim para a escola. O professor quando não tem este profissional na escola ele deve procurar apoio em seus colegas que são profissionais mais antigos, trocando experiências e tirando duvidas. Procurar como melhorar sua pratica é uma das razões do profissional, pois sua pratica deve sempre ser questionada, ou seja, fazer sempre uma autoavaliação.
No final de tudo isso que consegui tirar de dentro de mim, reclamo daqueles valores tanto da família como da escola que foram tirados e que nada foi colocado nos seus lugares. Devemos recuperar aqueles valores antigos da família e da escola?
Devemos lembrar-nos daqueles valores da família e da escola, e depois selecionarmos aqueles que ainda são necessários? Ou devemos esquecer e começar a criar novos valores no intuito de construir uma nova família, uma nova escola, enfim uma nova sociedade?