ELES ESTÃO PRONTOS?
ELES ESTÃO PRONTOS?
“Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas” (Mt 7.6) e “não fales aos ouvidos do tolo, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras” (Pv 23.9).
No tempo em que eu era ainda muito ignorante no ramo da espiritualidade – e hoje sou um pouco menos – encontrava figuras dignas de admiração, que tentavam em mim alguma lapidação doutrinária, a título de transformação espiritual. Tão lógica era a boa vontade dessas pessoas; porém, meus ouvidos nem de longe eram semelhantes aos “ouvidos de ouvir” que Jesus asseverou que deveríamos ter. O que me faltava em compreensão, a eles acontecia da mesma forma.
Quem são os cães e porcos referidos por Jesus? Poderia o mestre estar falando sobre alguma prática da época acerca das leis mosaicas? Certamente que não se tratava aqui de uma mera comparação materialista ou que pairasse no âmbito dos sacrifícios e dogmas da época. Jesus falou assim para melhor impressionar e tocar os corações, para que a mensagem divina pudesse florescer futuramente em seu sentido mais justo, porque os homens da época ainda não se achavam preparados para entender, tanto que disse o Mestre que ainda não havia em nós preparo para saber todas as coisas, e que estas viriam no futuro.
Com a comparação, quis-se afirmar que cada coisa deve ter seu tempo e lugar, que estes cães, porcos e tolos não eram senão as pessoas que ainda não alcançaram um preparo suficiente para compreender. São ignorantes da espiritualidade que ainda estão dando os primeiros passos. Ainda que as imagens produzidas choquem realmente, não devemos observar aqui um tom ofensivo, visto que seria totalmente incompatível com as atitudes do Mestre, que todo ele era Amor em plenitude. Mas necessário seria que assim acontecesse, para que a terra pudesse caminhar rumo ao progresso que se deve passar.
Um exemplo igualmente simples: seria inútil fazer um cego de nascença ver ou descrever a luz do dia sem que o mesmo se libertasse de tal condicionamento. Do mesmo modo acontece com os que se põem a doutrinar. Eles não sabem ou não querem buscar saber até onde seus ouvintes encontram-se preparados para aceitar e entender as máximas evangélicas de Jesus. Muitos querem violentar as idéias e pensamentos trazidos em cada um, como se apenas um ideal religioso ou cultural fosse correto. Não é assim que deve acontecer, pois estamos todos em uma caminhada evolutiva em graus diferentes.
Resulta inútil falar a quem não quer ou não pode entender. Ainda sim, como nada que Deus promove é absolutamente inútil, algum dia aquelas palavras lhe tocará o coração, de modo que deixaremos de lado as imperfeições morais e intelectuais que nos aproximam da animalidade e, distantes do homem-cão e dos vícios materiais que nos inclinam à semelhança de porcos, nos afastemos grau a grau da bestialidade que nos intitula de tolos, nos capacitando ainda mais para receber o que é sábio e justo, as pérolas do reino, o verdadeiro tesouro divino.
Não é de se admirar, pois, que muitos desistam da caminhada, seja porque suas palavras voltam “vazias”, devido à imprudência pessoal em aplicá-las no momento oportuno, seja por receber diversas incompreensões que nos ofuscam o entendimento, por parte dos pregadores do evangelho, que insistem em dar-nos o livro, antes de ensinar-nos a ler.