NÓS SOMOS “DEUSES”

NÓS SOMOS “DEUSES”

Outrora havia escrito considerações filosóficas para reflexão acerca dos sistemas que criamos para concepção do que vem a ser Deus. Não foram mais do que provocações iniciais dirigidas a mim mesmo, com fins de me colocar à luz da consciência e desapego emocional para com o objeto de pesquisa. As escrituras sagradas afirmam, nas pregações dos apóstolos de Cristo, que nós somos “deuses”. Que lições poderíamos extrair disto?

A razão indica que qualquer coisa que se copie ou se extraia de outra deve ser semelhante à primeira, ao menos por um aspecto, e nem sempre se torna igual a ela, pois muitas vezes imperfeita e distinguindo-se senão por laços de afinidade. Tal é o exemplo de uma fotocópia de um texto impresso, que certamente não terá a mesma qualidade da original, mas será prontamente reconhecida quando postas lado a lado.

No campo religioso propriamente dito, e aqui traçado diretamente nos moldes espiritualistas, funciona semelhante: somos todos imagem e semelhança de Deus, portanto, ainda que imperfeitos, temos características que nos levam a crer e saber que dele viemos, por comparações que demonstram nossas semelhanças com o criador. Desse modo, reunimos todas as qualidades divinas, porém, ainda muito imperfeitas.

Deus sendo infinito em tudo o que é perfeito e bom e nós, criaturas divinas a ele semelhantes, conforme expressa o evangelho, não deveríamos ser em todos os aspectos identificados com ele? Como alcançaremos tais perspectivas, diante de todas as limitações que temos? Das duas, uma: ou Deus não é perfeito, e possui um nível equivalente ao nosso, já que somos espelho do criador, ou nós poderemos, de algum modo, alcançar a perfeição.

Ora, essas pontuações acima levantadas não são senão algumas provocações voluntárias que quis fazer nascer nas mentes dos leitores, porque, em se expressando mais no campo religioso do que fora dele, logicamente encontraria a solução, ao menos momentânea, dessas perguntas, pois o próprio livro sagrado fornece as pistas.

A primeira pergunta que se pode fazer a nós mesmos é a respeito da divindade, que é a causa máxima e primária de tudo o que existe, inteligência suprema do universo, conforme está posto na Bíblia. Aceitando os atributos infinitos e perfeitos, logo aceitaremos que tudo o que Deus faz é igualmente perfeito. Se o homem não é perfeito, e bem sabemos que assim acontece, se não somos resultado de uma falha do criador (pois que é perfeito), poderemos ser, algum dia, perfeitos que nem ele. O Mestre nos pede que sejamos perfeitos como ele é e como é também Deus. Então, conclui-se que poderemos sê-lo algum dia.

Também Jesus nos assegurou que, se somos “deuses”, temos os mesmos atributos divinos do Pai e poderemos realizar tudo o que ele realiza. Se tivermos um pouco de fé, disse o Mestre, seríamos capazes de fazer muito mais que ele.

As questões que giram em torno do nosso papel aqui na terra assentam-se justamente no desejo de descobrir-nos “deuses”, ainda imperfeitos, mas perfectíveis. Ainda que tenhamos pistas seguras dessas questões no Livro Santo, não conseguimos compreendê-las, devido às nossas limitações e outros contextos a que foram submetidos os ensinos de Jesus e que, possivelmente, tenham chegado até nós deturpados.

Alguns poderão afirmar que a Palavra Santa reúna todas as respostas para as nossas indagações. Mas isto por si só não responde por que muitos estudiosos sérios debatem-se até hoje com todas essas questões existenciais do homem. Supõe-se, pela razão, que tais indivíduos ou não compreenderam a essência do texto e seu significado real (ou significados) ou o mesmo encontra-se de algum modo modificado em suas bases primordiais.

É certo que não poderemos conhecer todas as verdades de uma vez, e não desfrutaremos da liberdade prometida no evangelho – ao menos na vida atual - quando nos assegura que o conhecimento da verdade nos porá em liberdade. Então vamos nos libertando pouco a pouco, à medida que conhecemos a verdade e, se esta já nos fosse conhecida, seríamos então livres, mas de uma liberdade que não se assemelha com a condição adâmica que, colhendo o fruto do bem e do mal, tornaram-se presas das próprias ambições e se distanciaram de qualquer forma de liberdade que sonhamos hoje.

Deus não se contradiz em nenhum ponto. Conclui-se naturalmente que o conhecimento encontrado por Adão e Eva não era, de fato, a verdade libertadora acenada pelo Evangelho. É mais racional dizer que muitas vezes, quase sempre, caímos na nossa própria armadilha, quando alçamos verdades pessoais e utópicas, donde provém toda desgraça a que pode-se submeter o homem. A mesma razão permite supor que, se Deus deixou válido que nos libertaríamos conhecendo a verdade, é porque assim se daria. De certo que não estaremos perdidos para sempre, porque encontraremos a luz verdadeira que quebrará os grilhões que nos afastam de Deus. Entre acertos e tropeços, mesmo “errando” caminhos, com certeza chegaremos lá, porquanto o eterno Pai nos forneceu as ferramentas suficientes para encontrar o Caminho, Verdade e Vida, e consequentemente a liberdade, a perfeição, que já se encontra, aliás, encerrada no fundo da nossa alma, “deuses” que somos, fragmento do infinito, eterno e perfeito Deus.

damiaoaraujo
Enviado por damiaoaraujo em 29/02/2012
Código do texto: T3527360
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.