Dias de angústia
Ainda que Afonso Romano de Sant`Anna tenha defendido em sua tese que "a ruína nos dá lição de vida" , a sua tese não é inteiramente verdadeira porque as ruínas nem sempre ajudam na reconstrução, na maioria das vezes elas causam a destruição de sonhos, dos anseios que estavam prestes a serem conquistados, mas que no entanto os deslizamentos transformaram-nos em ruínas.
Não dá para se construir um castelo das ruínas, as ruínas são pequenos pedaços de pedra que só servem para apedrejar e abrir ainda mais as feridas de quem passou por este terremoto, isso só serve para causar dor e tormento psicológico por parte de quem passou pelo trauma. Como já dizia Freud que determinados distúrbios podem ficar presos dentro do subconsciente e ficar guardados lá durante muito tempo, mas que podem imergir a qualquer momento como um grande submarino com toda a sua imponência causando dores ainda maiores.
Quando um terremoto atinge nossas vidas é bem difícil que tudo volte ao lugar como realmente era, as lacunas permanecerão para sempre conosco, ainda que elas possam ser amenizadas, as lembranças dessa tragédia ficarão imortalizadas em nossos corações.
Quando uma taça se quebra e os seus caquinhos ficam espalhados pela casa, a única saída possível é varrer os cacos e amontoá-los em um só lugar para que eles sejam retirados sem machucar ninguém, mas não existe um novo começo para eles, o que se quebrou ficará eternamente quebrado. De modo que o brilho e o glamour ficarão esquecidos na memória e só lhe restarão dias de tristeza, angústia, medo e decadência.
Por mais que um terremoto não dure mais que alguns minutos de agonia, esquecer o que se passou não é tarefa fácil, e como lidar com os resquícios de um grande abalo? Ainda que você tente apagar da memória, quando você fechar os olhos conseguirá reconstituir todas as cenas que te fizeram e fazem sofrer.