A Amazônia brasileira é nossa!
A Amazônia brasileira é nossa!
Maju Guerra
Não tenho o costume de externar minhas opiniões sobre certos assuntos, principalmente os que dizem respeito à política e às crenças religiosas. Não creio na verdade absoluta. Cada um tem o direito à sua verdade que deve ser respeitada pelos demais, é no que creio.
Semana passada, li na Veja edição 2250 (meu marido é assinante) sobre uma pesquisa exclusiva encomendada pela revista a CNT/Sensus. Considerei a pesquisa excelente, um grande alerta para nós brasileiros. Do trabalho participaram treze empresas de pesquisas internacionais coordenadas pelo instituto. Conforme o que foi divulgado, ela abrangeu dezoito países (7200 pessoas entrevistados). Lembro-me mais ou menos de ter lido, já há muito tempo, alguma coisa sobre os mapas das escolas dos EUA não considerarem a nossa Amazônia como pertencente ao Brasil. Na realidade, de tão absurda e descabida a ideia, nunca lhe dei muito crédito. Mas, a reportagem da Veja fala sobre a Amazônia (em relação ao resultado da pesquisa) como “um equívoco tamanho gigante”, além de chamá-la de “a floresta da Mãe Joana”. Ao ler a matéria, dessa vez realmente fiquei assustada. Começa citando a "“internacionalização” da Amazônia como uma falácia antiga, quando o tenente da Marinha americana Matthew Maury reivindicou o livre acesso de embarcações estrangeiras ao rio Amazonas. Na ocasião, para o tenente, as dimensões oceânicas do rio eram suficientes” para que a sua “desbrasileirização” se tornasse justificável. Na década de 1980 (ou de 90), o mundo acordou para a questão ambiental. A região, então, tornou-se o foco de imensa e crescente preocupação mundial com a preservação do meio ambiente. A responsabilidade pela região amazônica passou a ser divulgada como sendo de todos os seus cidadãos e de cada cidadão do mundo. Por ser uma das regiões consideradas vitais para a manutenção do clima no planeta, além da sua incomensurável biodiversidade, da água e das riquezas naturais que abriga, a Amazônia não deveria ser “cuidada” pelo país ao qual pertence. Ressalta-se que a Amazônia pertence a nove países, e no Brasil encontra-se 60% da sua área. “A pesquisa da Sensus mostra que, lamentavelmente, muita gente lá fora vem levando esse delírio a sério - 40% dos entrevistados afirmam que a Amazônia deveria ser administrada “de acordo com regras internacionais” e não em conformidade com as leis brasileiras. Mais do que isso, 65% se dispõem até a pingar um dinheirinho para ajudar no financiamento dessa administração exógena,” cuja intenção elevada é a de “preservar a floresta””. De acordo com o que foi publicado pela Veja, 41% dos entrevistados nos EUA consideram que a floresta deve ser administrada segundo regras internacionais, 34% pensam que a floresta deve ser preservada conforme as regras do país e 9% apenas atribuem ao Brasil o papel de cuidador da sua floresta. A França e a Alemanha são ainda mais radicais. No Japão, o percentual piora absurdamente: 71% afirmam que o nosso país deve seguir regras internacionais para a administração da Amazônia contra 1% que considera o Brasil como o zelador da sua floresta. Os menos radicais, dentre os mencionados na pesquisa, foram a Rússia e a África do Sul, talvez porque suas grandes áreas florestais não sofram ameaças de internacionalização. São países mais respeitados dos que os da América do Sul, como a própria história demonstra.
Pois, ao ler o artigo, senti a Amazônia com se fosse a Antártida, cada um dono de uma parte. Em relação à Antártida isso se justifica, ela não é um país.
Depois da leitura, comecei a me lembrar de coisas que li e que não dei importância: “Farms here, forests there”, ou seja, “Fazendas aqui, florestas lá”, lema de alguns países do primeiro mundo. Vou citar outro fato, embora não se trate da Amazônia. Li há algum tempo sobre a preocupação dos EUA em relação à Tríplice Fronteira (leia-se: Cataratas do Iguaçu, já consideradas Patrimônio Natural da Humanidade). O artigo dizia que há grande quantidade de imigrantes islâmicos na região, daí a imensa preocupação com o terrorismo. Será verdade? Pesquisas mostram que, no subsolo da região da Tríplice Fronteira, encontra-se a principal reserva natural de água potável da América Latina - e provavelmente a maior do mundo.
Outro assunto que me deixa bem preocupada são as tais Sete Maravilhas da Natureza. Soube que, a baía de Halong, no Vietnã; Komodo, na Indonésia; a ilha de Jeju, na Coreia do Sul; a Montanha da Mesa, na África do Sul e o rio subterrâneo de Puerto Princesa, nas Filipinas já foram escolhidos como cinco das Sete Novas (?) Maravilhas da Natureza. Notei que nenhuma das Maravilhas encontra-se na Europa ou na América do Norte (as Cataratas do Niágara também são Maravilhas da Natureza). A votação contou com a participação de milhares de pessoas através de votos pela internet. As Cataratas do Iguaçu e a Amazônia também fazem parte da lista preliminar. Em 2012 saem os resultados definitivos. Não duvido que as duas Maravilhas restantes sejam fatalmente as citadas Cataratas e a Amazônia. Em minha opinião, trata-se do começo da internacionalização das regiões. Recebi vários emails para votar sobre o assunto, mas não votei, desconfiei dos reais motivos da citada eleição. Ninguém duvida que a Amazônia e as Cataratas do Iguaçu são maravilhas da natureza, não se faz necessária uma escolha mundial para que isso seja oficializado. O importante, no entanto, é não se perder de vista que elas têm donos: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname, Venezuela, Argentina e Paraguai.
Logicamente, não sou a favor do desmatamento da Amazônia ou de quaisquer outros métodos que possam colocar em risco sua integridade. Penso que o governo brasileiro deve cada vez mais estabelecer regras rígidas para a sua preservação. Acredito, também, que precisamos ficar vigilantes em relação ao respeito à nossa soberania inquestionável na região. Creio que é assunto muito sério, não se deve brincar ou se imaginar que a internacionalização da Floresta é algo impossível de ocorrer, as coisas mudaram bastante.
Não sei se o que estou escrevendo é besteira, ou se estou me tornando paranoica a respeito do tema. Creio, porém, que algo precisa ser feito com urgência para salvar a nossa Amazônia de interesses escusos cada vez mais claros. Torna-se necessário, em minha humilde opinião, que um forte movimento seja iniciado para a conscientização do nosso povo. Torna-se necessário que, o governo tome sérias e céleres medidas em defesa da Amazônia brasileira, para que o mundo saiba que ela é nossa, não vamos abrir mão do que é nosso. Delírios como os descritos pela Veja são extremamente perigosos, para se tornarem realidade é daqui pra ali.
Maria Julia Guerra.
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