O Fim da Guerra: E agora?

Pois bem, a lógica venceu: o poderio militar das forças anglo-americanas, em poucos dias, foi capaz de depor um regime ditatorial num país que já perdurava por várias décadas. A tão aclamada força militar iraquiana resumiu-se em pequenos grupos isolados que enfrentaram, de forma desproporcional, máquinas, equipamentos e estratégias da coalizão liderada por ingleses e americanos.

Porém, com o final dos conflitos e com o surgimento de uma nova ordem para a nação iraquiana, algumas perguntas reaparecem e outras surgem: A primeira delas é: onde se encontra Saddam Hussein? Está claro agora que a população iraquiana vivia com medo das atrocidades causadas por esse ditador e, sem meios físicos para enfrentá-lo, acabaram por se submeterem aos seus delírios. Mas onde ele está? Se já estava morto com o início da guerra, por que continuar os bombardeios? Se está vivo, onde foi? E quem o esconde? Junto com seu paradeiro, surge uma outra pergunta: Onde se encontra a temível Guarda Republicana que, em nenhum momento, ofereceu resistência a invasão da coalizão?

Com essas perguntas, surge uma terceira, igualmente ou mais embaraçosa: Onde estariam guardadas as armas de destruição em massa que a coalizão insistiu em afirmar que o regime do ditador iraquiana possuía? Mesmo sendo invadido, em nenhum momento tais armas foram utilizadas e tão-pouco encontradas pelas tropas anglo-americanas e seus correlegionários. Os inspetores da ONU afirmaram e reafirmaram que tais armas não existiam, porém os EUA, a Grã-Bretanha e seus aliados, pregavam a necessidade da guerra para destruir tais arsenais. E onde esses armamentos estão? E por que algumas nações não podem ter armamentos como a bombas químicas, biológicas e nucleares e a outras tal direito é consagrado? Quem determinou qual a nação poderá ser portadora dessa tecnologia? Por que então não determinar o fim de todas elas e aplicar sanções àqueles que insistirem em mantê-las? Essa pergunta poderia ser melhor respondida quando analisarmos o papel do órgão da ONU responsável pelo controle dessas armas e que sofreu forte pressão norte-americana, para que o seu secretário, um brasileiro, fosse destituído, pois o mesmo queria que os EUA fossem também analisados e investigados no que concerne à manutenção dessas armas de destruição em massa.

Seguindo nessa linha, podemos ainda fazer uma outra pergunta igualmente espinhosa: Qual o papel da Organização das Nações Unidas (ONU)? Por que a resolução dela não foi cumprida? O Conselho de Segurança da ONU vetou a invasão do Iraque, no entanto, ao infringir tal determinação, nenhum dos agressores foram punidos. Ao contrário, apenas a população já massacrada do Iraque acabou por ser prejudicada, pois foram bombardeados, viram suas cidades serem destruídas, sofreram com a onda de saques, são encarados mundo afora com desconfiança, sem se esquecer dos anos de pavor que viveram nas mãos de Saddam Hussein. A guerra jamais será meio para a obtenção da paz. Não existe liame algum que os uma. A falácia que levou à guerra mostra que não existe nenhum outro interesse senão o econômico.

Mas podemos continuar ainda: Por que mundo afora inúmeras resoluções da ONU são descumpridas e algumas dessas nações não sofrem embargos econômicos? Basta olhar através da história e veremos a maneira como ingleses e norte-americanos lidaram e continuam lidando com as demais nações, intervindo na política e na economia deles sempre objetivando o interesse dos seus conglomerados industriais. A todos aqueles que poderiam contrariar seus interesses a política foi sempre a mesma, mudou-se a forma da intervenção, mudou-se o ano, mudou-se o local, mas o resultado objetivado foi sempre o mesmo. Basta lembrar do Paraguai, do Chile, do Brasil, de Cuba, do Panamá, da Nicarágua, da Colômbia, de Honduras, da África do Sul, do Japão, da China, da Índia, da Libéria, do Afeganistão, da Coréia, do Vietnã, da...

Por outro lado, podemos ainda analisar alguns fatos dessa guerra e extrair lições importantes. Conforme palavras do presidente norte-americano, George W. Bush, essa guerra ocorreu devido a um embate entre o “bem” e o “mal”, trazendo para sua nação o “dever” de defender o “bem”. Que “bem” é esse? E de onde viria essa assertiva? Quem os classifica como o “bem”, e quem representa o “mal”? Ao que tudo indica, o “bem” parece ser a subserviência aos interesses deles, norte-americanos, enquanto o mal é a não aceitação da política norte-americana. Mas deve-se ressaltar que o Iraque necessitava sim de uma política que o libertasse das mãos insanas de Saddam Hussein, porém, sob a supervisão da ONU. Mas devemos nos ater só à questão iraquiana; como o próprio primeiro ministro britânico disse, a luta deles é, na verdade, a luta pela libertação do povo iraquiano. Tais palavras, sentimentais, chega ao ponto de causar comoção! Então, por que não destinar 10% (dez por cento) de todo esse montante, para o combate a pobreza nas nações em desenvolvimento? Por que não perdoar a dívida externa dessas mesmas nações? Por que não cobrar das indústrias oriundas dos países industrializados uma política mais social e menos exploratória? O lucro ocorrerá, é fato, no entanto a política de respeito ao ser humano não é tão certa. Investindo na valorização do ser humano, o resultado de paz seria muito mais rapidamente atingido do que a destruição deflagrada por essa guerra.

Ficou claro nessa guerra que o interesse não era humanitário, porém a necessidade de resposta que os norte-americanos queriam em face do trágico atentado ocorrido em 11 de setembro de 2.001. Igualmente mostrou que a importância de algumas nações, como o Iraque, que possui petróleo em abundância e rios caudalosos (Tigre e Eufrates), fato raro no Oriente Médio, são estrategicamente necessários para a política norte-americana e precisam estar sob sua égide de influência. Além disso, as indústrias norte-americanas sofriam com uma recessão e necessitavam de algum novo mercado, e nada melhor do que começar com a reconstrução de uma nação que, a partir de agora estará totalmente dependente da política ianque. O Iraque tinha um ditador, e esse preceito foi imposto pelos norte-americanos e seus seguidores. E qual será o próximo argumento e quem será o “escolhido”?

Piracicaba, 14 de abril de 2.003.

julianopd
Enviado por julianopd em 29/11/2011
Código do texto: T3362674
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