“Despistes provocam dois mortos e dois feridos"
Às vezes pergunto-me “De que é que vale acreditar num Deus salvador?”. Acabamos todos por morrer, sem haver nenhum Deus que se preocupe em tomar atenção se estamos a desaparecer de uma forma merecida ou não.
Para mim, fé não radical é aceitável. Muito aceitável. Acho que a ideia de existir um Deus, não concebível não minha cabeça, mas bastante real para outros, pode ajudar em alturas mais chatas. Pode mesmo ser a tábua de salvação nos piores momentos, o facto de acreditarmos que existe um Deus que pode melhor a nossa vida, ajudará de certo a erguer a cabeça e a passar por cima do obstáculo que nos é imposto.
Depois há a vertente do comércio e do aproveitamento da fé desmedida de alguns crentes, que compram tudo o que é estatuetas, lenços, terços, velas, pulseiras, carteiras, malas, t-shirts e canecas alusivos às santas e santinhas que por aí andam… Isso enerva-me! Ridicularizam o que salva muitos e mata outros, levam ao ridículo extremo uma coisa que podia ser naturalíssima.
Mas e quando se acredita que há um Deus salvador que protege os bons e pune os maus e uma desgraça pavorosa, ridícula, injusta e fora do nosso alcance mental acontece? Em que parte estava um Deus qualquer que fosse para moderar aquela guerra entre a vida e a morte, em que o lado das trevas ganha? Quando os culpados saem impunes e os inocentes acabam por passar para o outro lado da linha, que não tem retorno? Onde fica a fé no meio disso tudo?
Qual Deus, qual quê. Deus é apenas uma invenção do homem para que tenhamos algo onde nos agarrar. Não me venham dizer que existe um Deus salvador e justo quando morrem pessoas com um coração do tamanho do mundo e que nada de mal fizeram para serem privadas para sempre de desfrutar os prazeres que a vida pode proporcionar.
E quando alguém morre, deixa de sentir e acaba. Acaba tudo ali. E para quem fica? Fica um vazio, um buraco negro, um aperto no peito que, por momentos nos deixa sem respirar e nos consegue levantar os pés do chão, deixando-nos atónitos e sem a verdadeira percepção do que se passou. Na verdade, apenas se desce à realidade algum tempo depois, consciencializando-nos, mais uma vez, que a fé apenas nos ajuda a sair de situações desagradáveis, mas não mortais, porque a fé, que eu saiba, ainda não ressuscita ninguém.
Apesar de alguém um dia ter dito que “Morrer é só não ser visto”, eu digo que morrer é não ser visto, é não ser sentido, é deixar mossa e marca nas outras pessoas para o resto da vida.
Aí, de que nos serve a fé? Se Não nos traz ninguém de volta, então também não serve para mais nada.
P.S. O Carlos, uma das vítimas mortais do acidente ocorrido esta madrugada, acreditava em Deus de uma forma conscientemente vincada. No entanto, e apesar de ser apenas uma vítima no meio de todo este aparato, a crença e a fé não o salvaram do fim trágico...
E já passaram quase dois meses e meio...