A REFLEXÃO POLÍTICA NO CONTEXTO DA PRÁTICA RELIGIOSA

Frequentemente encontram-se dois dualismos na Vida Religiosa Consagrada: reflexão x prática e política x fé. O papel do intelectual cristão não deveria ser justamente este: conhecer a realidade e se perguntar pelas causas dos fenômenos? Será que teremos que abandonar definitivamente a afirmação do ser humano como animal racional em Platão e animal político em Aristóteles?

Dom Hélder Câmara dizia "Se dou pão aos pobres me chamam de santo, se pergunto por que os pobres não têm pão me chamam de comunista". Na reflexão política no contexto da prática religiosa, tal proposição passa a ser entendida assim: Se dou pão aos pobres me chamam de religioso, se pergunto por que os pobres não têm pão, me chamam de político! Contrariando uma tradição de separação entre ética e política (onde há política não há ética) que vem de Maquiavel e gerou a dissociação entre religião e política em termos históricos, isso poderia ser traduzido na necessidade de se pensar o contexto da religião e de Jesus. "Há quem insista que Jesus se restringiu a comunicar-nos uma mensagem religiosa que nada tem de política ou ideologia. Tal leitura só é possível se reduzida a exegese bíblica à pescaria de versículos, arrancando os textos de seus contextos. Ora não é só o texto que revela a Palavra de Deus, também o contexto social, político e ideológico, no qual se desenrolou a prática evangelizadora de Jesus. Todos nós, cristãos, somos inelutavelmente discípulos de um prisioneiro político" (Frei Betto, in A Mosca Azul).

Ao lado da razão cientifica, da razão crítico-literária, da subjetividade e da intersubjetividade, da secularização e do relativismo, da bio-ética e das ciências de maneira geral... a política aparece como um dos grandes desafios da religião (e da Igreja) na era contemporânea. Um problema que não é novo e que ganha novo fôlego de enfrentamento no período pós-Vaticano II, há 50 anos, quando a Igreja se volta para o povo e se encontra com os desafios da política (entusiasmo, decepção, centralização, retomada realista). Surge a Teologia da Libertação como tentativa de responder a esses desafios, participando da virada hermenêutica e flertando com a política pela via do marxismo (o que trouxe problemas).

De onde vem a Teologia da Libertação senão da pregação do amor de Deus aos pobres? A Teologia da libertação, nas palavras de Libânio e Boff, tem como premissa básica a reflexão da práxis sob a luz da fé e os resultados desta ação iluminando a própria prática ― quem reflete está engajado na prática (o teólogo se deixa motivar e questionar pela práxis) ― rompem-se muitos dualismos ― fé e política se unem novamente.

Além disso, a Igreja se configura a partir das Comunidades Eclesiais de Bases e das Pastorais Sociais e isso traz novidades eclesiológicas. "O domínio da política" ― declarou o papa Pio XI a 18 de dezembro de 1927, em discurso dirigido à Federação Universitária Italiana ― "que considere os interesses da sociedade toda, é o campo mais vasto da caridade, da caridade política, da qual se pode dizer que nenhuma outra lhe é superior".

Ramires karamázov
Enviado por Ramires karamázov em 19/11/2011
Reeditado em 02/12/2011
Código do texto: T3344606
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