Uma doença chamada Amor

Em pleno século XXI, onde os relacionamentos se mostram mais “abertos” e “descartáveis”, tem sido cada vez mais comuns jovens e adultos recorrerem aos consultórios psicológicos em busca de ‘cura’ para uma ‘doença’ chamada Amor. Segundo especialistas e estudiosos do assunto, o chamado “Amor Patológico” seria uma doença que causa dependência tanto quanto o álcool e outras drogas e o ‘doente’ precisa de tratamento.
 
Em meu consultório atendo casais e família, e tenho percebido que um número cada vez maior de pessoas estão sofrendo de amor e o mais notável é que a maioria dos ‘doentes’ que me procuram tem idade acima dos 30 anos.
 
O amor é considerado saudável quando existe um sentimento e um comportamento recíproco de prestar atenção e cuidados ao outro. Mas, quando ocorre falta de controle nesses sentimentos ou comportamentos, e uma pessoa passa a ser prioridade para a outra, em detrimento de outras atividades e pessoas anteriormente valorizadas, está caracterizado o amor patológico. Neste caso, o amor definido em dicionários como um sentimento que impulsiona o individuo para o belo, digno ou grandioso, passa a significar sofrimento e dor capaz de levar à destruição de si próprio e de quem se ama.
 
O ‘amor patológico’ pode estar presente nas mais variadas formas de relacionamentos, como por exemplo, entre casais, amigos, irmãos ou na relação de uma mãe com o filho. A pré-disposição para desenvolver este tipo de amor varia de pessoa para pessoa, de acordo com a história de vida de cada um.
 
Causa muita admiração a familiares e amigos quando casamentos considerados sólidos repentinamente são desfeitos. Isso nos remete à análise de quais os motivos que estriam causando desencontros nos relacionamentos amorosos na atualidade. Um dos problemas seria, justamente, o amor patológico. Este assunto, inclusive, tem sido motivo de estudos e discussões no âmbito; cientifico mundial.
    
As pessoas que sofrem de amor patológico estão mergulhadas num misto de sentimentos devastadores de baixa auto-estima, rejeição, insegurança, medo do abandono, posse, carência, ciúme, vingança e desespero, o que pode culminar em atitudes inadequadas como perseguições, suicídios e até assassinatos. Esse tipo de amor é próprio de pessoas que não suportam ver o amado viver a sua própria vida de forma livre. Num casamento no qual um dos cônjuges sofre de amor patológico é comum perceber que este sinta a necessidade descontrolada de cuidar do outro, enquanto o outro demonstra gostar de ser cuidado, transformando essa troca num processo de auto-alimentação.
 
Ainda não foram realizados estudos epidemiológicos sobre a manifestação do amor patológico entre homens e mulheres, mas existem indícios de que esse problema parece ser mais freqüente entre as mulheres. Entretanto, esta constatação pode estar relacionada ao fato de que os homens são mais resistentes em buscar ajuda, mesmo de profissionais, quando o assunto é relacionamento amoroso. Na minha prática clinica de terapeuta de casais e família, o maior percentual tem sido em homens acima dos 30 anos de idade,
 
O amor patológico já é visto e tratado, nos casos mais severos, como um transtorno psiquiátrico e não apenas como um problema de relacionamento, já que alguns sintomas apresentados estão presentes em outros transtornos, tais como o transtorno ansioso e depressivo e o transtorno obssessivo-compulsivo. Em termos psicológicos, então, a essência dessa patologia parece não ser amor, mas o medo de estar só, o sentimento de menos-valia, de não merecer amor, de vir a ser abandonado.
 
Tratamento multiprofissional
 
Alguns estudos apontam, ainda, que clinicamente, o “Amor Patológico” se assemelha aos mesmos critérios de diagnósticos empregados nos dependentes químicos. Assim, para se vencer o amor patológico, é necessário uma intervenção multifucional conjunta de profissionais das áreas da psiquiatria e da psicologia com a família da pessoa portadora. Isto porque, a atenção, a compreensão externa e o dialogo aberto e franco sobre o problema são medidas fundamentais para ajudar a aliviar a angústia de quem sofre com um amor que perdeu os limites.
A psicoterapeuta Eglacy Sophia, pesquisadora do ‘Amore’ (Ambulatório do Amor em Excesso), da Universidade de São Paulo, disse que é possível encontrar semelhanças entre as características desse tipo de amor e da dependência de álcool e outras drogas.
Cita sintomas de abstinência, como angustia, taquicardia e suor na ausência ou no distanciamento (mesmo afetivo) do amado. O individuo se preocupa excessivamente com o outro, as atitudes para reduzir ou controlar o comportamento de cuidar do parceiro são mal-sucedidas, é despendido muito tempo para controlar as atividades antes valorizadas.
 
Teste o seu amor
 
A doutora Eglacy criou um questionário para ajudar na avaliação da ‘dosagem’ do amor com relação ao parceiro. Teste o seu amor e procure questionar-se sobre:
 
 Você costuma sentir-se satisfeito com a quantidade de atenção e tempo que despende ao seu parceiro ou percebe que fez mais do que gostaria?
 
 Você acha que a quantidade de atenção que dirige ao seu parceiro está sob seu controle ou é comum tentar diminuir e não conseguir?
 
 Você mantém outros interesses e relacionamentos ou abandonou pessoas e funções em decorrência da sua vida amorosa?
 
 Você continua se desenvolvendo pessoal e profissionalmente após o inicio de seu relacionamento amoroso?    
 
Resultado: Se a maioria das suas respostas foi não; então pode considerar-se um doente de amor.

Maria Celene Almeida
Enviado por Maria Celene Almeida em 23/10/2011
Reeditado em 25/10/2011
Código do texto: T3293440
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