Eterna Dúvida
Não sabia por que tinha feito aquilo. Analisando a situação agora, percebo que não havia razão para isso. Cortar o mal pela raiz, era isso que eu tinha pensado no meio de meu desespero.
Era uma tarde como qualquer outra quando tudo aconteceu. Eu estava em meu escritório assinando alguns papéis quando escutei a batida na porta.
- Pode entrar! - gritei, sem desviar o olhar da papelada.
Só depois de alguns instantes que fui ver quem era o sujeito que já havia se sentado numa cadeira a minha frente. Era Jorge, um dos meus funcionários mais bem-humorados. Admito que sentia um pouco de inveja, já que ser engraçado nunca foi uma qualidade minha.
- Em que posso ajudá-lo? - perguntei cordialmente.
- Eu sei de tudo. - Foi o que ele disse. Assim, sem pestanejar. - E eu vou contar a verdade.
Encarei-o, confuso, mas ao olhar mais incisivamente para seu semblante notei o que ele queria dizer. Meu corpo se enrijeceu, fiquei completamente sem fala. Desesperado.
- Quem te contou isso? - quase gritei. - Aposto que foi ela, não é? A secretária? Mas foi apenas uma noite! Não conte nada a minha mulher... - parei quando notei sua surpresa.
Então não era de que ele falava? Do que poderia...
- Ai, meu Deus! É sobre o que eu disse a respeito do chefe, não é? Eu estava bêbado! - e emendei. - O que você quer? Dinheiro? Quanto? Pode falar que eu faço um cheque agora!
Jorge tossiu para esconder uma risada.
- Só quero que a verdade se sobressaia nesse dia de mentiras. - respondeu ele, tentando parecer sério.
Meu medo transformou-se em raiva. Então Jorge estava achando graça da minha desgraça? Ele quer meu lugar na firma e acabar com meu casamento, pensei. Não vou deixar que ele acabe com a minha vida, pelo que tanto lutei.
Não sei quando ou como aconteceu, só me lembro que estava em pé, empunhando a arma que guardava tão bem na última gaveta da minha escrivaninha, e de Jorge, caído no chão, ensanguentado. Morto.
Recordo-me que na hora que toda aquela insanidade saiu da minha cabeça, fiquei apavorado, e meu primeiro impulso foi de correr para meu apartamento.
E, enquanto eu era jogado para dentro do camburão, sentindo o tenebroso frio das algemas em meus punhos, relembrava esse primeiro de abril sangrento, e ficava imaginando o que Jorge havia descoberto.
OBS: Essa redação foi feita para o Concurso de Redação da minha escola, cujo tema era traduzir uma atitude impensada, com consequências trágicas. Gostaria muito de saber a opinião de vocês. Obrigada :D