MEMORIAIS

O QUE EU ESPERO FAZER E ESTOU FAZENDO AQUI NO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Memorial 1

No dia 13 de outubro de 1950, nascia em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais um menino muito esperado pelos pais, por ser o primeiro de um matrimonio onde um negro alfaiate e uma branca, neta de portugueses se uniram contra a vontade da família branca. O fato de estar hoje com sessenta anos, não me permite fazer este memorial sem contar um pouco da minha historia. Assim cheguei ao mundo e meu pai de alfaiate a funcionário publico federal, onde foi efetivado como guarda-chaves na Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) desejava que seu filho fosse sábio e inteligente o suficiente para não ter uma vida cheia de dificuldades como a dele. Ele começou a me educar, e aos três anos eu já lia historias infantis na Livraria Mafuz perto de minha casa para o delírio dos adultos que me rodeavam boquiabertos. Meu pai queria que eu me formasse no ginásio para ser maquinista na Rede Ferroviária. Para isso por muitas vezes veio com uma correia na mão atrás de mim, já que para ir a escola eu caminhava dois quilômetros subindo nos pés de mamona na beira da estrada e chegava bem sujo, sempre barrado pelo pelotão de saúde na sala de aula que olhava mãos, pés e roupa suja e nisso eu era campeão pois aquela terra de minério ficava bem grudada em meu uniforme, e isso significava castigo na hora do recreio. Bom destacar que no meu primeiro dia de aula no Grupo Escolar Municipal Professor Antônio Aleixo no Barreiro, um bairro de Belo Horizonte, fui transferido da classe dos novatos para a classe dos repetentes já que eu demonstrei amplo conhecimento em tudo que a professora perguntava. Formei no primário e fui para o Ginásio Domiciano Vieira no mesmo bairro onde me formei em 1967. Entretanto não fui trabalhar na Rede Ferroviária pois aconteceu o Golpe Militar no Brasil e por muitos anos não houve concurso para tal até que ela foi privatizada. Fui para o Exercito Brasileiro quando fui convocado e após dar baixa fui convidado para realizar uma prova onde me ingressei nas fileiras da Marinha de Guerra Brasileira na condição de voluntário e ali permaneci por dez anos durante os quais meu pai faleceu. Vê-se que os anos foram passando, e comecei a trabalhar como motorista, algo que até hoje ainda faço com muito prazer por gostar de dirigir embora não o exerça mais como profissão. Por todo esse tempo, sempre estive ao lado de outras pessoas procurando ajudá-las em suas dificuldades, tornando a amizade e cuidados tão intensos que beiravam os laços familiares, principalmente entre os adolescentes aos quais dediquei boa parte de minha vida como chefe escoteiro. Fui Coordenador através da Fundação Hermine e Paul Zielinsk de uma casa que abrigava jovens adolescentes infratores, uma dura, mas gratificante experiência e mais tarde, através da Instituição denominada Providencia Nossa Senhora da Conceição como Instrutor de moradores de rua abrigados na Republica Renascer no Bairro Floresta onde aprendi muito no convívio com estes cidadãos excluídos da sociedade em nossa cidade. Durante todo este tempo um desejo intimo ia me roendo por dentro. Fazer um curso superior nesta área, ser como aquela Assistente Social que me orientava nesse trabalho. Comecei a eliminar matérias para conseguir o certificado do ensino médio e os anos continuaram a passar. Não tinha dinheiro suficiente para pagar um ensino médio e superior, mas sempre com muito desejo de prosseguir nos estudos. Entretanto a pobreza e o trabalho me impediam de fazê-lo. No inicio do ano 2010(dois mil e dez) tracei a meta que não iria procrastinar mais. Faria todas as provas que me fossem possíveis. Já havia eliminado Português, Geografia, Literatura e Língua Espanhola. Assim fiz os exames supletivos no primeiro semestre quando eliminei Matemática e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias e Linguagens Códigos e suas Tecnologias. Não consegui media em Ciências da Natureza e suas Tecnologias mas, não desanimei. Continuei estudando, pesquisando e lendo muito para fazer o exame do Enem. Fiquei muito feliz quando vi o resultado de todo o meu esforço recompensado, e auxiliado por uma excelente redação fui aprovado em todas as matérias deste exame dando-me a oportunidade de através do Pro uni realizar o grande sonho, não só meu e sim de toda uma geração da família Costa de adentrar na Pontifícia Universidade Católica e mais ainda, fazer uma Licenciatura em Ciências Sociais e com êxito .Em meu primeiro dia na sala de aula confesso que a cada palavra dita pelos professores eu ficava boquiaberto, porque estava ouvindo coisas, adquirindo um conhecimento tal que jamais, mesmo com todo o sonho universitário de muitos anos imaginei ouvir. Coisas novas para meu intelecto porem reais, visíveis no mundo ao meu redor. Cada texto de Antropologia, Sociologia , Historia, Filosofia ou Política lido por mim nestes primeiros dias, por menor que seja em nada se compara a toda a coleção de Harry Potter ou Crônicas de Narnia e muitos outros aos quais dediquei a agora sei que perdi grande parte de meu viver lendo-os, por não haverem a mim acrescentado nenhuma sabedoria. Cada instante na sala de aula encanta o meu viver. Ainda às vezes me belisco para ver se tudo isto é real. Aqui estou para aprender e atingir plenamente um objetivo que veio pelo exemplo de meu pai, que ansiava ver o seu filho educado ou formado como ele dizia. O que farei durante o período em que aqui estiver é investir todo o meu tempo antes ocioso e tornar-me um perfeito acadêmico e intelectual, aplicando todos os ensinamentos feitos pelos meus professores que demonstram ate aqui o desejo de me auxiliar como novo aluno a me transformar no Cientista Social que eles projetaram para o futuro no curso, quando então irei modificar o ambiente ao meu redor, ajudando a transformar a sociedade em meu Município, meu Estado e amanhã já em classe contribuir para ampliar o conhecimento de jovens e adultos para se tornarem melhores cidadãos, melhores pais e melhores filhos. Ser melhor a cada dia, mudar meus modos de pensar e agir, aprender a aprender, aprender a pensar, ver e olhar, melhorar a linguagem e observar melhor e cada vez mais a vida social, política e comportamental das pessoas ao meu redor, em meu País e no mundo. Talvez eu tenha escrito mais que pediu o Professor Jose Márcio, mas foi a primeira oportunidade que tive de expressar o meu contentamento e gratidão por esta grande oportunidade que me foi dada neste momento de minha vida e prometo fazer memoriais melhores a cada instante de aprendizado em classe, até tornarem-se perfeitos textos acadêmicos cumpridas todas as formalidades que estou tomando conhecimento dia a dia em classe. Neste primeiro momento muito tenho ainda a relatar, mas encerrarei a narrativa reservando outros acontecimentos para outros momentos de mais aprendizado e oportunidades que certamente surgirão.

Memorial 2

Na sequencia de minhas anotações quero afirmar que hoje já começo a ser um novo homem. O curso de Ciências Sociais tirou de mim a ansiedade de estar na universidade, e como uma guloseima da qual nunca havia experimentado estou me lambuzando com cada aula com cada necessidade que tenho de reler, reler, fazer empatia e transportar-me para o personagem do texto colocar os pontos e vírgulas nos seus respectivos lugares entender o texto finalmente. É maravilhoso o sentimento do novo aprendizado. Vejo que a antropologia esta direcionada para a reflexão de mim mesmo como realidade no planeta. Vejo que o professor tem nos ensinado a nos colocar no novo grupo social acadêmico, especificamente dentro de sala como um todo. Se formos trinta viver um relacionamento solido se possível com cada um dos colegas de classe, isto se todos estiverem abertos para fazer parte do nosso jeito de ser, pois viemos de lares diferentes. Algo jamais imaginável era estar sentado ao lado de meu irmão seis anos mais jovem na mesma classe com os mesmos objetivos. De uma forma normal certamente seria impossível que eu retardasse em aprendizado seis anos para me encontrar com ele em sala de aula, mas na verdade eu fiquei fora da escola muitos anos o que causou tal situação. Tê-lo ao meu lado é um grande incentivo e ver toda a família e amigos eufóricos com este nosso momento também me motiva. Cada passo dentro da universidade é cercado de emoções diferentes e hoje observo mais ao meu redor de maneira critica principalmente no comportamento das pessoas ao meu redor. Lá na portaria hoje segunda-feira dia vinte um de fevereiro, tinha uma senhora distribuindo um panfleto direcionado aos alunos da Puc, mas quando eu passei ela não me viu como aluno e não me ofereceu o panfleto. Comentei com meu irmão e na saída estávamos juntos, ela estava lá no mesmo local com o mesmo objetivo e mais uma vez para nós não ofereceu novamente. Dai vem a pergunta. Por quê? Que sociedade é esta onde as pessoas são pre julgadas pela aparência? Será que eu não tenho o porte de um universitário de acordo com a visão daquela mulher? Certamente que para ela não, e este comportamento me incentiva mais e mais a continuar, aprender mais e desenvolver em mim um novo homem bem preparado para desfrutar do conhecimento antropológico e social que esta chegando, para que eu possa compreender mais o meu semelhante e meus passos se tornarão mais largos firmes e decisivos. Amo estar no curso de Ciências Sociais. Não poderia estar em outro, porque não encontraria o alento necessário para seguir nessa maravilhosa jornada de conhecimento. Admiro plenamente os meus professores. Percebo que transmitem as idéias com plena convicção e não procuram nos forçar a aprendê-la, mas buscam dentro de cada aluno o desejo de compreender a mensagem e desenvolver dentro de si o entendimento que o professor tão sabiamente tem colocado diante de nossos olhos e ouvidos. Seguirei em frente e quero ter cada vez mais, novas emoções e principalmente dificuldades de aprendizado porque isto me fará ser melhor a cada dia.

ederbrasil
Enviado por ederbrasil em 27/08/2011
Reeditado em 30/04/2012
Código do texto: T3185676
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