OS HOMENS DE DEUS E O DEUS DOS HOMENS
Do ponto de vista religioso ou, mais amenamente, espiritualista, Deus certamente é inquestionável. Ninguém costuma exercitar perguntas direcionando ao que é perfeito. O infinito, o imutável, o sempre presente, o que tudo vê, o insondável, o infinitamente soberano, justo e bom. Em fim. Declarações inquestionáveis e praticamente incompreensíveis para um ser da mesma natureza. Isto é o que diz a religião. Brincar com Deus ou brincar de ser Deus? Não é permitido. Sacrilégio.
Deus, o criador de todas as coisas e dos homens, que deixou escapar para nós o discernimento do bem e do mal, após digerirmos a velha e tentável maçã, e por isso hoje nasce das nossas mentes brilhantes e ousadas, que não mais temem o fogo da inquisição, perguntar: os homens são de Deus ou é Deus dos homens?
No prisma religioso, temos a primeira alternativa com afirmação inquestionável. Mas se pensarmos que fé e ciência são dois planos distintos de análise, possibilitamos – sem o medo da inquisição, talvez por culpa da maçã – a chegada à segunda afirmativa em forma de pergunta: o Deus dos homens. Explico-lhes.
A idéia da existência de um ser superior – Deus – veio na mente do homem quando ele começa a questionar ou busca entender fenômenos da natureza até então desconhecidos. Um pensamento que nos assalta é o fato de alguém maior que nós, “alqo que não é o homem” fazer ou ter feito coisas que o homem não fez. Então, atribuímos tal entidade superior à criação de todas as coisas superiores. E isto é uma idéia tão forte na mente humana, a mais forte de todas, que o simples questionamento de qualquer atributo ou ação divina torna-se uma tarefa árdua, até mesmo para que possamos nos separar dos dogmas religiosos e ver Deus enquanto idéia filosófica e cultural, o que, longe de diminuí-lo, enaltece-o, através de duas visões diferentes, nem melhores e nem piores, as duas necessárias, a fé e a ciência.