Cisne

Sempre suspeitou de que havia algo de diferente. Não poderia dizer o que era exatamente, mas não restava dúvidas de que a presença ou a ausência de algo em si causava um estranhamento nas pessoas.

A princípio julgou que era a aparência. Resolveu aposentar todo seu guarda-roupa antigo e apostar em novos modelos de belíssimas cores; em vão.

Então devia ser uma questão de comportamento, de hábitos. Só podia ser isso. Pouco a pouco, mudou radicalmente sua maneira de agir, experimentou caminhos por onde nunca havia passado, provou sabores que não conhecia e novas canções passaram a fazer parte de sua trilha sonora. Tudo inútil.

Aonde quer que estivesse não era capaz de despertar empatia alguma nas pessoas. Sua presença sempre fora dispensável. Constatou então, não sem certa dose de melancolia, de que se tratava de uma espécie de patinho feio, porém com a simples diferença de que não viria jamais a se tornar um cisne.